Substância do chá de ayahuasca estimula formação de neurônios

Uma pesquisa anterior, publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria, já havia mostrado que a bebida pode ser eficiente na redução dos sintomas de depressão. Segundo os dados do estudo, 24 horas após a ingestão do chá, os voluntários relataram diminuição dos sintomas depressivos em cerca de 62%, em média. Esse efeito estaria relacionado a harmina, uma espécie de antidepressivo natural, presente em grandes quantidades na ayahuasca.

“Sabíamos que o efeito de antidepressivos está associado ao estímulo da neurogênese em roedores. Decidimos testar se a harmina, provocaria o mesmo efeito em células neurais humanas”, afirma Vanja Dakic, doutoranda da UFRJ e uma das autoras do estudo.

Para entender a ação da harmina, os pesquisadores expuseram células geradoras de neurônios humanos, criados em laboratório, aos efeitos dessa substância. Após quatro dias em contato com as células, esse componente da ayahuasca aumentou a proliferação dessas células neurais em até 70%.

Os cientistas também foram capazes de identificar como as células neurais humanas respondem à harmina. O efeito depende da inibição de uma proteína conhecida como DYRK1A, cujo gene localiza-se no cromossomo 21, é bastante ativado no cérebro de pessoas com Síndrome de Down e pacientes com Alzheimer.

A formação de novos neurônios no cérebro adulto é um processo complexo. Depois da proliferação as novas células podem tomar outros rumos. “Conseguimos identificar o processo de proliferação como efeito da harmina, agora precisamos identificar a migração e a diferenciação”, explica Dakic.

 

Chá alucinógeno

A ayahuasca é popular por provocar efeitos alucinógenos o que gera polêmica em torno do uso mesmo em rituais religiosos. No Brasil, o Conselho Nacional Antidrogas retirou substância da lista de drogas alucinógenas em novembro de 2004, permitindo o uso nos rituais religiosos. No entanto, a composição contém dimetiltriptamina, que é proibida em alguns países, como na Rússia e nos EUA.

O estudo faz parte da tese de doutoramento de Dakic do Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas da UFRJ, orientada pelo professor Stevens Rehen, pesquisador do IDOR (Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino) e ICB-UFRJ.

Fonte : www.uol.com.br