Saúde vitaminada

JULIANA VINES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não basta oferecer um abecedário de nutrientes. Os multivitamínicos agora prometem aumentar a imunidade, melhorar o funcionamento do intestino e dar mais disposição. Tudo isso graças a um coquetel que inclui, além de vitaminas e minerais, probióticos e antioxidantes.

É o caso do Bion3, da Merck, que combina 20 nutrientes, como cálcio, com bactérias probióticas.

“Ele melhora o sistema imunológico e dá mais energia porque auxilia na absorção de nutrientes”, diz Daniel Blumen, diretor de marketing da Merck Consumer Health.

Segundo ele, desde fevereiro, quando começou a divulgação do produto no país, as vendas crescem 30% ao mês.

O Bion3 não é o único da categoria “muito mais que um multivitamínico”. Na Europa e nos EUA, o suplemento Berocca, da Bayer, indicado para melhorar o desempenho mental e físico, faz sucesso até contra ressaca –embora o fabricante não recomende. A marca ainda não chegou ao Brasil.

Por aqui, a linha Centrum, da Pfizer, já tem oito tipos de multivitamínico. Neste ano, a marca lançou duas fórmulas com antioxidantes para quem tem mais de 50 anos.

“Se a pessoa não come seis porções de frutas e verduras por dia, precisa de um complemento”, diz Luiz Henrique Fernandes, diretor médico da Pfizer Consumer Healthcare.

Foi o que levou o comerciante Paulo César Penido, 53, a tomar um desses produtos. “Eu me alimento bem, mas se faltar algum nutriente, a vitamina garante. E me dá um ‘plus’ de energia.”

A mesma impressão tem Guilherme Moreira Bigardi, 32, supervisor de vendas. “Eu sempre ficava cansado. Com o multivitamínico melhorou bastante.” Mas ele admite que não foi um milagre, já que passou a se alimentar melhor e a fazer exercícios.

CONTROVÉRSIAS

Muitos especialistas têm ressalvas quanto à necessidade dos multivitamínicos.

“Eles vendem uma imagem de salvação, de que com a vitamina você vai vencer o cansaço. Não é bem assim”, diz o nutrólogo Celso Cukier.

“Para o metabolismo da energia precisamos de vitaminas do complexo B, mas são quantidades mínimas. Com alimentação normal você consegue o necessário.”

Por “normal” ele quer dizer comer arroz, feijão, carne, frutas e legumes. A nutricionista Silvia Franciscato Cozzolino, professora da USP, indica de cinco a sete porções de frutas e vegetais por dia.

De acordo com ela, a pessoa pode até sentir mais disposição quando tomar vitamina se tiver carência de nutrientes. O mesmo vale para a questão da imunidade.

“Estudos já mostraram que probióticos podem ajudar nesse sentido. Nutrientes como o zinco também.”

Mesmo assim, ela não recomenda o uso de suplementos sem indicação médica.

“De qual mineral a pessoa tem carência? Em quais doses? Vitamina faz bem só para quem precisa”, afirma Durval Ribas Filho, nutrólogo.

Como os multivitamínicos são complementares à alimentação, as doses são baixas e não representam riscos. Mas os suplementos para suprir carências de nutrientes específicos podem fazer mal.

“Muita vitamina C pode levar à formação de cálculos renais, e o excesso de vitamina A ou E pode prejudicar o fígado”, diz Luciana Coppini, presidente da Associação Brasileira de Nutrição.

De acordo com a nutricionista, grávidas, vegetarianos e idosos que não conseguem se alimentar bem precisam de suplementação. “Quem faz academia, não. Só se for atleta de elite.”

– Fonte: Folha de S.Paulo