Prevenção é o melhor remédio para evitar crises respiratórias, afirmam médicos

Bárbara Rinaldi, de 37 anos, lembra como se sentiu quando descobriu que o filho Caio, então com 4 anos, tinha asma. Foi uma mistura de medo, porque ela ainda precisaria aprender sobre o problema, e, ao mesmo tempo, alívio. Porque, finalmente, descobriu-se o motivo de tanto cansaço sentido pelo filho, mesmo quando apenas brincava na escola, e a razão para qualquer resfriado quase sempre evoluir para quadros de infecções respiratórias graves. Foi preciso trocar de pediatra e de alergista, ao longo de três anos de angústia e dúvida, para chegar à causa e aos tratamentos.

— O primeiro pediatra só dava remédio para as horas críticas. Não fui orientada a fazer um tratamento preventivo. Isso só aconteceu quando mudei de médicos — lembra Bárbara, que perdeu as contas de quantas crises enfrentou. — O pior é que o quarto dele tinha mofo e eu não sabia que isso piorava a situação. Também não sabia exatamente o que ele tinha. Mas, após duas internações, uma por complicações da asma e outra por sinusite aguda, nem voltei para casa. Fui para a minha sogra até trocarmos de endereço.

A dificuldade para obter o diagnóstico das doenças respiratórias, como ocorreu com Caio, é comum. Por isso o tema foi discutido no Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar, na última quarta-feira, na Casa do Saber O GLOBO. O pneumologista Carlos Alberto de Barros Franco e a alergista Teresa Seiller foram os palestrantes. O evento teve curadoria de Cláudio Domênico e mediação da editora de Saúde do jornal, Viviane Nogueira.
— Um dos problemas dessas doenças é que causam os mesmos sintomas, como coriza, cansaço, dor no corpo e garganta. Por isso, os tratamentos, muitas vezes sem orientações médica, são inadequados — pondera Barros Franco. — O diagnóstico é fundamental, assim como os tratamentos preventivos.

CONTROLE DO AMBIENTE

Após se mudar de sua casa, em São Paulo, Barbara passou a “controlar o novo ambiente”. Jogou cortinas e tapetes fora. Nunca mais comprou ursinhos de pelúcia e adiou o sonho do bicho de estimação. Ela também cerca de cuidados o quarto do filho Davi, de 3 anos. Hoje com 8 anos, Caio ainda toma medicação e faz inalação, mas consegue nadar e brincar.

— Passamos grande parte do tempo no quarto. É preciso deixá-lo limpo, sem itens que acumulam poeira. É preciso também limpar o filtro do ar-condicionado — alerta Teresa Seiler, acrescentando que a asma é uma doença inflamatória do pulmão que atinge cerca de 300 milhões de pessoas no mundo.

 

A alergista afirma que é preciso tratar a inflamação, e não apenas “abrir o pulmão” com o uso das famosas bombinhas, para que o paciente, congestionado, consiga respirar.

— Asma é igual a cachorro. Tem de ensinar o pulmão a ficar aberto, assim como se ensina o cachorro a não fazer xixi em certos lugares. Por isso, o tratamento preventivo. Porque tratar a asma é mole. A gente tem é de tratar para a pessoa não chegar lá — diz.

A alergista recomenda vacinas, confeccionadas de forma especial para cada paciente. Tanto para asmáticos quanto para quem sofre de rinite. Além de melhorar a qualidade de vida do paciente, é mais barata que remédios.

Segundo Cláudio Domênico, a rinite acomete cerca de 20% a 25% da população. Ele explica que os alérgicos têm resposta exagerada a certas substâncias (alérgenos, como poeira e ácaro), mas também a itens irritantes (fumaça e perfume), agentes físicos (umidade e poluição) e refluxo gastroesofágico. A maioria das alergias tem causa genética.

— As infecções podem precipitar as alergias e vice-versa. A rinite pode levar a asma, sinusite, otite e alterações no comportamento e no sono. No inverno, mesmo que em grande parte do país não haja queda de temperatura acentuada, o problema se acentua. A umidade, a poluição e o aquecimento global também são fatores — aponta Domênico. — Já a sinusite é uma complicação dos quadros alérgicos, quando há o acúmulo de secreção e obstrução do nariz e dos seios da face, causada por bactérias.

GRIPE x RESFRIADO

Barros Franco comenta que também há confusão com resfriado e gripe. Ele esclarece que o resfriado é uma virose frequente, que pode ser causada por cerca de 200 vírus diferentes. Neste caso, não há vacina. Já a gripe é o resultado do contato com o vírus influenza, e há vacina extremamente eficaz.

— Toda a semana fico gripado? Chance zero. Fiquei gripado e fui para o trabalho me arrastando? Também chance zero. Tomei a vacina para a gripe e fiquei gripado? Impossível. Gripe não é resfriado, e as pessoas confundem os canais — explica o pneumologista, afirmando que a gripe “derruba”. — Não acontece com frequência e impossibilita que a pessoa vá trabalhar ou para a escola.

Por isso, ele insiste na prevenção com o uso da vacina. O pneumologista afirma ainda que é preciso tomá-la de ano em ano porque o vírus influenza muda:

— É simples: ou o vírus mata você ou você mata o vírus. Ou seja, resfriado ou gripe são curados em de sete a dez dias. Em caso de complicação, é preciso checar o que de novo se manifestou.

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