Os benefícios da bebida-símbolo do Brasil

Ao acordar, após o almoço, no meio da tarde e, quem sabe, até mesmo depois do jantar. A tradicional xícara de café é uma das bebidas mais consumidas e apreciadas no Brasil – e mundo afora. Mas, mesmo com essa popularidade, as propriedades do café ainda sofrem um certo preconceito.

Faz mal à saúde? Tira o sono? Deixa as pessoas muito nervosas? Os estudos sobre o café desmentem essas informações. Infelizmente, essas iniciativas ainda são poucas no Brasil – um país que bebe cerca de 81 litros de café por habitante ao ano, mas deixa as pesquisas na área um pouco de lado.

Felizmente, por outro lado, o professor Luiz Antônio Machado César, diretor da Unidade Clínica de Coronariopatia Crônica do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), vai na contramão dessa realidade. Estudioso dos efeitos do café há quase uma década, ele garante que quatro xícaras de café ao dia podem, sim, trazer benefícios à saúde.

Se consumida dentro dessa quantidade média, tomar café é um hábito saudável. Segundo os estudos do professor Luiz Antônio, que avaliam os efeitos do café sobre o sistema cardiovascular (inclusive em pacientes portadores de doenças coronárias), não há evidências de que o café faça qualquer mal ao coração. Além disso, ele está repleto de substâncias boas para a saúde.

“O café não é só cafeína”, lembra Luiz Antônio. “A cafeína é, sim, um estimulante, e pode também ser encontrada no chá, no chocolate e em outros produtos. O que o grão de café tem de mais interessante, no entanto, são os compostos fenólicos antioxidantes.”

Antioxidantes são substâncias capazes de atrasar ou inibir agressões às células sadias do organismo causadas pelos radicais livres (agentes que, mesmo fundamentais para a saúde, quando em excesso, passam a oxidar células saudáveis, como proteínas, lipídios e o DNA).

Produtos naturais, como chá, vinho, frutas consumidas com a casca e verduras, contêm alto teor de antioxidantes – e o café também. Na busca pela saúde, muitas pessoas acabam apelando para cápsulas que prometem oferecer esses antioxidantes, mas não existe comprovação científica de que isso funciona. Já tomar aquelas quatro xícaras de café ao dia, ajuda sim.

Até o final do século passado, muitos acreditavam que o café trazia malefícios à saúde, podendo aumentar a pressão sanguínea e até mesmo provocar infartos. A partir da virada do milênio, estudos começaram a comprovar que nada disso possuía base científica.

Pesquisas mais modernas sugerem, por outro lado, que os diabéticos que tomam café têm melhores condições de saúde que os diabéticos que não tomam. Além disso, não há evidência alguma que comprove a relação entre o consumo de café e a ocorrência de problemas coronários.

“Pessoas sensíveis à cafeína podem preferir ficar em duas xícaras ou estabelecer horários mais ‘agradáveis’, como pela manhã, para beber café”, diz o professor Luiz Antônio. “Mas não existem razões para abandonar o costume. Mesmo pessoas com pressão fora do normal e arritmias podem fazê-lo – pois, segundo estudos, nenhuma condição foi agravada pelo hábito de beber café”, completa.

Já quem vai além e toma mais de quatro xícaras de café ao dia também pode regular essa margem. É normal que o ser humano se acostume à cafeína – e, parando de tomar radicalmente, possam surgir efeitos como dor de cabeça, incômodo e irritabilidade. A redução gradativa é uma escolha melhor (até que se atinja a quantidade média recomendável).

Grão cheio de história

De fato, o café tem se mostrado um produto revolucionário desde que se tornou mais popular. O hábito de tomar café se disseminou para além da Etiópia, seu provável berço, a partir do século 16 – primeiro no Oriente, entre a Pérsia e a Arábia, onde era torrado e depois misturado à água.

Ali mesmo, ele foi inicialmente rechaçado: acreditava-se que o efeito altamente revigorante da bebida iria contra as leis do profeta Maomé. Foi só quando perceberam que o café também auxiliava a digestão e “alegrava o espírito” que os mais radicais passaram a recomendar seu uso.

Ainda hoje, altitude, tipo de solo, condições climáticas, genética do grão e o cultivo das plantas são elementos que determinam a qualidade do produto. Selos de origem, no Brasil, indicam as melhores marcas para se consumir. E, de restante, vai do gosto de cada um o modo de preparar um cafezinho de todo dia. Ou quatro deles.

Fonte : Coração e Vida