Número de mortes provocadas pela Aids cai 27% em 5 anos

O número de mortes por doenças relacionadas à Aids caiu 26,7% nos últimos 5 anos, aponta relatório divulgado nesta terça-feira pela Unaids, o Programa das Nações Unidas para a Luta contra a Aids. Esta informação, considerada “extraordinária” pela organização, se deve a um crescimento expressivo no acesso ao tratamento. No fim de 2015, 17 milhões de pacientes em todo o mundo estavam recebendo medicamentos antirretrovirais. São 2 milhões a mais de pessoas medicadas em 12 meses.

— O potencial da terapia antirretroviral está sendo percebido — disse Michel Sidibé, diretor executivo da Unaids, durante a apresentação do relatório em Nairóbi, capital do Quênia. — Peço a todos os países que aproveitem essa oportunidade sem precedentes para acelerarem os programas de prevenção e tratamento do HIV e acabar com a epidemia de Aids até 2030.

Segundo o relatório, o número de mortes relacionadas à Aids caiu de 1,5 milhão em 2010 para 1,1 milhão no ano passado. A redução foi maior entre as mulheres (33%), que entre os homens (15%), porque eles ainda iniciam o tratamento de forma tardia. A oferta global de terapias antirretrovirais alcançou 46%, sendo que os maiores progressos aconteceram nas regiões mais afetadas pela doença, no leste e sul do continentes africano, onde a cobertura aumentou de 24% para 54% dos pacientes, num total de 10,3 milhões de pessoas.

Na África do Sul, 3,4 milhões de pessoas têm acesso ao tratamento, seguida pelo Quênia, com 900 mil. Botsuana, Eritreia, Quênia, Malawi, Ruanda, África do Sul, Suazilândia, Uganda, República da Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue aumentaram a cobertura do tratamento em mais de 25 pontos percentuais entre 2010 e 2015.

2,1 MILHÕES DE NOVOS CASOS

Por outro lado, o número de novas infecções continuou estável, em 2,1 milhões de novos casos anuais, mas o dado mascara distorções regionais que devem ser percebidas para um melhor combate à doença. Nos países mais afetados, do leste e sul da África, programas de prevenção resultaram em redução de aproximadamente 40 mil infecções anuais entre 2010 e 2015 entre adultos. Regiões da Ásia e Pacífico também reduziram o número de novos contágios, mas no Leste Europeu e na Ásia Central o número de novas infecções aumentou em 57%.

O grupo de maior risco é de jovens e adolescentes, sobretudo entre a população feminina. Mulheres entre 15 e 24 anos representaram 20% das novas infecções em 2015, apesar de serem apenas 11% da população contaminada. De acordo com a Unaids, desigualdade e normas de gênero danosas, obstáculos para a educação e acesso a serviços de saúde reprodutiva, pobreza, fome e violência estão na raiz dessa vulnerabilidade maior.

— Nós precisamos de respostas centradas nas pessoas, que removam todos os obstáculos no caminho das pessoas ao acesso de serviços de prevenção e tratamento do HIV — disse Sidibé. — Esses serviços devem ser totalmente financiados e apropriados para as necessidades das pessoas, para que possamos pôr fim à epidemia de Aids para todos.

PROGRAMA “90-90-90”

O programa de prevenção e tratamento proposto pelas Nações Unidas é conhecido como “90-90-90”, por ter três objetivos-chave: diagnosticar 90% das pessoas infectadas pelo HIV no mundo, oferecer terapias antirretrovirais para 90% dessas pessoas, e alcançar supressão viral em 90% dos pacientes que receberam o tratamento.

— Sim, seria muito caro, mas valeria cada centavo — disse Rochelle P. Walensky, pesquisadora do Massachusetts General Hospital e professora da Universidade Harvard, líder de estudo publicado nesta terça-feira no periódico “Annals of Internal Medicine” sobre a viabilidade econômica do programa.

Críticos expressaram preocupação com os custos astronômicos para a implantação do programa proposto, que requer doações sem precedentes de organizações como o Fundo Global e o Banco Mundial. Mas, com dados epidemiológicos da África do Sul, os pesquisadores estimaram que os ganhos são superiores aos custos.

De acordo com simulações, nos próximos dez anos a estratégia “90-90-90” custará US$ 54 bilhões, mas será capaz de evitar 2 milhões de novas infecções e 2,4 milhões de mortes, salvando 13 milhões de anos de vida dos pacientes em relação à estratégia convencional. Apesar do investimento ser 42%, o gasto por ano de vida salvo é a mesma que o dos programas menos ambiciosos.

— A implementação do “90-90-90” pode representar um cíclo virtuoso de tratamento, levando ao diagnóstico prevoce, rápido início do tratamento e maior sobrevivência para os infectados, com menos casos de novas transmissões — disse Rochelle.

– Fonte: Portal O Globo