Nova arma contra o câncer

Um jovem foi diagnosticado com uma forma agressiva de câncer de rim há alguns anos. A doença afetava os ossos, o que provocava dores intensas, e o tratamento com quimioterapia e radioterapia não surtiam efeito. Em meados do ano passado, após experimentar todos os remédios conhecidos, a situação passou a ser angustiante.

A esperança veio de um tipo revolucionário de medicação contra o câncer, os imunoterápicos, que já havia se mostrado promissor em outro tipo de tumor, o melanoma. O jovem foi aos Estados Unidos para participar de um estudo clínico em que pudesse receber, experimentalmente, uma nova droga.

Esse novo tipo de medicação é uma revolução em termos conceituais no combate ao câncer. Trata-se nada menos do que treinar o sistema imune do paciente a reconhecer o tumor e atacá-lo ferozmente.

É uma forma engenhosa de tratamento, já que para fugir do sistema imunológico, as células cancerosas criam inúmeros artifícios que as “escondem” das células encarregadas de vigiar o paciente. Localizar e desmontar esses artifícios permite que se use as próprias defesas do organismo contra o câncer.

Uma verdadeira família de medicações com esse mecanismo de ação começa a apresentar os primeiros resultados. Assim, um medicamento retira os linfócitos de um estado de dormência, de forma que eles reconheçam novamente o tumor como um corpo estranho e o eliminem. Outros impedem que o tumor desligue o sistema imunológico.

Esses medicamentos estão começando a tornar-se comercialmente disponíveis em diversos países para melanoma e alguns tipos de cânceres de pulmão avançado. No recente encontro da Sociedade Americana de Oncologia Clínica em Chicago, nos EUA, ficou evidente que esse é apenas o começo do que se presume que será uma história vitoriosa. Essas medicações estão sendo estudadas em outros tipos de câncer e agora de forma combinada, com resultados promissores.

No entanto ainda existem obstáculos para que esse tipo de terapia atinja todo seu potencial. Tumores são resilientes e muitos conseguem modular o sistema imune, dificultando a sua eliminação. O número de estudos necessários para a compreensão e o refinamento dos tratamentos é enorme. Novas estratégias precisam ser desenvolvidas para que outros tipos de tumor possam ser combatidos e para que mais pacientes possam ser beneficiados.

Apesar disso, esbarramos em outro problema. O custo atual desses novos tratamentos está se mostrando um fator impeditivo para seu uso em larga escala, mesmo em países com economia desenvolvida.

Isso torna ainda mais vital que o Brasil aprimore seu sistema regulatório de pesquisa, para que mais pacientes possam participar de estudos clínicos com essas medicações promissoras, e para estimular a indústria farmacêutica nacional a entrar nesta corrida contra o câncer.

Quanto ao jovem mencionado no começo deste artigo, trata-se de um caso real. O paciente conseguiu participar de um estudo clínico e seu tratamento ainda está em andamento. Após alguns meses de tratamento com imunoterápico, repetiu seus exames e a boa notícia foi que todas as suas metástases desapareceram.

O que nós, médicos, esperamos é que mais pacientes possam ter sucesso e que a esperança de pesquisas bem-sucedidas apresentadas em congressos sejam disponibilizadas a todos. Assim, mais pessoas poderão ter a chance de enfrentar uma doença que evolui mais rápido do que gostaríamos.

PAULO HOFF, 46, oncologista, é diretor-geral do Icesp – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira

BERNANDO GARICOCHEA, 54, é oncologista do Hospital Sírio Libanês

Fonte: Folha de S.Paulo