No futuro, seremos míopes

Juliana Contaifer – Especial para o Correio

Daqui a 34 anos, mais de metade da população mundial será míope. Os dados foram divulgados pela Sociedade Americana de Oftalmologia e pelo Instituto de Visão Brien Holden, na Alemanha. A previsão é que, em 2050, mais de cinco bilhões de pessoas precisarão de óculos ou de lentes de contato para enxergar a distância. O estudo pondera ainda que essa é uma tendência muito difícil de mudar.

 

Segundo o médico Padmaja Sankaridurg, líder do programa de miopia do Instituto de Visão Brien Holden e um dos chefes da pesquisa, o levantamento foi feito em duas partes. Na primeira, toda a literatura existente sobre a prevalência e a mudança da miopia com o tempo foi revista. “O objetivo era entender e documentar a prevalência da miopia hoje. A pesquisa identificou aproximadamente quatro mil estudos. Destes, 145 eram globais e foram repassados em detalhes. Na fase seguinte, usando fatores de risco, como idade e divisão entre meio urbano e rural, chegamos ao ano de 2050.”

 

Não é uma pesquisa controversa ou inesperada — a maior parte da classe médica já esperava pelo resultado. “Nos consultórios, o número de míopes vem aumentando absurdamente. Quase não usamos mais a visão a distância e a visão periférica dos jovens tem pouca utilidade. A visão central, mais detalhada, é usada para perto”, conta o oftalmologista José Rodrigues, do Isovisão — Instituto de Saúde Ocular.

 

Chefe do Departamento de Refrativa e presidente do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), Canrobert Oliveira vê relação entre o avanço do distúrbio e o padrão de vida atual. “Quando vivíamos no tempo das cavernas, não líamos, não havia vestibular nem concurso, não tinha computador, celular ou WhatsApp. Nós caçávamos, usávamos a visão de perto só para lascar pedras ou enxergar a comida”, conta o oftalmologista.

 

O músculo interno que controla o foco aprendeu que vivemos em espaços pequenos, geralmente menores que 5m. E ele só relaxa quando se enxerga além dessa distância. “Não é como o músculo cardíaco, que começa a trabalhar nas primeiras semanas de vida e só descansa quando morremos. O músculo do olho se cansa com 50 minutos de trabalho para perto”, ensina Canrobert.

 

As maiores vítimas desse fenômeno são as crianças. O doutor Padmaja conta que, em alguns países da Ásia, é possível encontrar crianças de 3 anos com miopia por conta do estilo de vida. “O problema é que o aumento do grau acontece muito mais rápido nas crianças mais jovens”, afirma.

 

A miopia não é uma doença grave e pode ser corrigida facilmente por lentes, mas, quanto maior o grau, maior o risco de contrair doenças oculares. “Os míopes têm o olho maior e, por isso, mais propensão ao glaucoma, ao descolamento da retina, à catarata e à degeneração macular”, conta o oftalmologista José Rodrigues. A degeneração macular é a consequência mais preocupante, pois os danos à visão são irrecuperáveis.

 

Para evitar

  • Não há jeito de reverter a tendência a ficar míope, uma vez que nosso estilo de vida exige foco em objetos muito próximos. Uma dica é dar um descanso para os olhos a cada cinquenta minutos. Basta olhar para longe que o músculo ocular já trabalha de outro modo. Outra sugestão, principalmente para crianças e adolescentes, é dar prioridade a atividades ao ar livre. Além disso, é importante manter visitas regulares ao oftalmologista.

 

Alguns dados

  • Cinco bilhões de pessoas terão miopia em 2050;
  • A miopia se tornará a causa principal de cegueira permanente;
  • Os pais devem levar os filhos ao oftalmologista com frequência, aumentar o tempo de atividades ao ar livre e moderar o uso de eletrônicos;
  • A miopia costuma começar na infância, na idade escolar, e pode piorar até os primeiros anos da vida adulta. Também pode ocorrer em adultos (de 20 a 40 anos) que não tiveram histórico de problemas na infância;
  • A miopia afeta uma em cada quatro pessoas na Austrália, uma em cada três nas Américas e uma em cada duas nos países asiáticos. Em 2010, mais de um quarto da população mundial apresentava a condição.

Fonte: Site Saúde Plena