Não faça dieta na quarentena, melhore sua alimentação.

Pesquisas recentes revelam que a alimentação dos brasileiros piorou durante a quarentena, com o aumento do consumo de doces e ultraprocessados e a diminuição da comida de verdade. Por outro lado, muitas pessoas têm aproveitado o isolamento para fazer dietas. Medo de engordar durante este período, cancelamento de eventos sociais e mais tempo para cozinhar são algumas das motivações desse público. O problema é que muitas destas dietas são bastante restritivas e podem prejudicar o funcionamento do organismo como um todo e especificamente dos sistemas imunológico e nervoso, fundamentais em tempos de pandemia.

 

A melhor escolha seria fazer uma reeducação alimentar, que vale para todo mundo, mesmo para aqueles que não precisam perder peso.

 

As dietas restritivas costumam retirar um grupo alimentar inteiro do cardápio, como os carboidratos; propor longos intervalos de tempo entre as refeições ou até indicar que se elimine algumas, como o jantar e o café da manhã. Elas costumam resultar em uma rápida diminuição do peso corporal, mas certamente o organismo estará perdendo mais músculos do que gordura. Isso ocorre porque o cérebro precisa de energia constante para funcionar e não tem como estocá-la, portanto, se deixar de receber combustível a cada três horas, irá reter a gordura, que servirá como garantia de sobrevivência, utilizando os aminoácidos como matéria-prima. Estes são necessários para a formação das células de defesa, dos hormônios e dos neurotransmissores, que nos acalmam e reduzem a ansiedade, também são responsáveis por formar os músculos, a pele, o cabelo e as unhas.

 

Portanto, aqueles que seguem dietas restritivas com frequência, podem até perder peso a curto prazo, mas a médio e longo prazos também poderão ter queda de cabelo, enfraquecimento das unhas, flacidez muscular, um sistema imunológico mais debilitado, irritação e noites mal dormidas, entre outros sintomas.

 

Durante uma dieta sem carboidratos é comum que se aumente muito o consumo de proteínas e este hábito também coloca o organismo em risco. Pra começar, o excesso de proteína acidifica o ph sanguíneo, que deveria ser mais alcalinizado. O sangue acidificado está entre as causas de muitas doenças, como alguns tipos de câncer. Para se reequilibrar, o organismo pode retirar o cálcio dos ossos, o que resultaria em osteoporose. Além disso, temos um limite diário da quantidade de proteínas que conseguimos digerir e absorver, quando ultrapassamos essa quantia, podemos sobrecarregar e comprometer o fígado e os rins. Aquilo que não for digerido servirá de alimento para fungos e más bactérias do intestino, que produzem toxinas, que poderão causar resistência à insulina e doenças crônicas não transmissíveis, como: diabetes tipo 2, obesidade, acidente vascular cerebral e até problemas cardíacos. Pra piorar, a falta dos carboidratos acaba com o muco protetor do intestino, que serve de alimento para as boas bactérias, que iriam nos proteger.

 

Precisamos consumir alguma fonte de carboidrato pelo menos nas três principais refeições do dia e, de preferência, nas intermediárias também. Isso porque são eles que dão energia para o nosso cérebro funcionar. Mas há representantes bons e ruins deste grupo. A reeducação alimentar defende que o segredo está em escolher melhor as suas fontes. A maior parte das que são consumidas atualmente pelos brasileiros vem dos produtos ultraprocessados feitos com farinhas refinadas, como a de trigo, que tem um índice glicêmico maior do que o do açúcar, o que é ruim para a nossa saúde. O ideal é variarmos bastante as fontes de carboidrato, dando prioridade para os mais complexos, como as farinhas feitas com arroz, a fécula de batata, os polvilhos que vem da mandioca e os próprios alimentos naturais, o arroz, o arroz integral e as raízes, como: batata, batata doce e mandioca. Estas opções têm mais fibras, que fazem com que sejam absorvidas mais lentamente e sem que causem picos de glicose no sangue, que facilita o acúmulo de gordura.

 

Também há aquelas dietas que classificam os alimentos pela quantidade de calorias que eles têm e que valorizam aqueles com um valor calórico menor, mas este é um critério muito limitado. Você pode, por exemplo, comer uma porção de gelatina com pouquíssimas calorias e nenhuma fibra, vitamina ou mineral, importantes para o processo de perda de peso ou optar por uma porção de abacate, uma fruta considerada calórica, mas que é composta por uma gordura boa, que também nos auxilia a emagrecer.

 

Qual seria a escolha mais acertada? Em uma reeducação alimentar, certamente o abacate. Também não adianta substituir a comida de verdade por produtos industrializados com menos açúcar ou com menos gordura, como os refrigerantes zero ou os chocolates diet, por exemplo. Eles costumam ter diversos aditivos químicos, que inibem a absorção de nutrientes, necessários até para o emagrecimento. Ao invés de trocar os originais pelos produtos diet ou light, seria mais eficaz reduzir bastante o consumo dos deles em qualquer versão.

 

O que se vê nos consultórios dos nutricionistas é que, em cerca de dois anos, os adeptos às dietas voltam a engordar e o novo peso tende a ser constituído por um percentual maior de gordura e menor de músculos, trata-se de uma alteração na constituição corporal, o que dificulta um novo emagrecimento, é o famoso efeito sanfona. Ao retornar aos antigos hábitos o organismo já terá passado por uma privação e deverá estocar ainda mais gordura, para se prevenir contra um possível novo desequilíbrio. Já foi comprovado que o excesso de peso é um processo inflamatório gerado por carências nutricionais, principalmente de vitaminas, minerais e ômega 3, por isso, quem quer emagrecer deve comer mais.

 

Alimentos com mais qualidade, mais frequentemente, de preferência a cada três horas e de forma mais fracionada: com menores quantidades em cada refeição e com mais variedade, com alimentos de todos os grupos.

 

Aproveite a quarentena para se reeducar e melhorar sua alimentação. Se estiver com uns quilinhos a mais, poderá emagrecer com saúde e se estiver no peso que deseja, deverá ganhar em qualidade de vida.

 

Fonte: Juliana Carreira, para O Estado de São Paulo. Publicado em 03.06.2020