Mudança de estilo de vida reduz em 40% incidência de câncer

Reduzir drasticamente os fatores de risco para o câncer — em especial, o tabagismo e a obesidade — é condição sine qua non para diminuir a incidência da doença e, consequentemente, o número de mortes que ela causa. É este o lema do Instituto Nacional de Câncer (Inca) nesta quinta-feira, 4, data em que é lembrado o Dia Mundial do Câncer. Um debate sobre como como atitudes saudáveis podem ajudar a evitar e controlar esse mal será realizado às 10h, no auditório do 8° andar do prédio-sede do Inca (Praça Cruz Vermelha 23, Centro). Para participar, basta apresentar a carteira de identidade no local, que tem capacidade para 220 pessoas.

Os últimos dados do instituto mostram que, em 2013, houve 189.454 mortes causadas por algum tipo de câncer. E, para 2016, a estimativa é de que sejam registrados mais de 596 mil casos da doença no país. Entre os homens, são esperadas 295.200 novas ocorrências, e, entre as mulheres, 300.870. O tipo de câncer mais incidente em ambos os sexos será o de pele não melanoma, correspondendo a 29% do total estimado. Em seguida, para os homens, os cânceres mais comuns serão os de próstata, pulmão, cólon e reto. Entre as mulheres, as maiores incidências serão de cânceres de mama, cólon e reto e colo do útero.

Segundo Ronaldo Corrêa, oncologista clínico da Unidade Técnica de Exposição Ocupacional e Ambiente do Inca, é possível reduzir em 40% o número de casos de câncer controlando apenas os fatores de risco. Por isso, ele destaca que é importante investir mais em prevenção — com mudança no estilo de vida — do que em tratamentos novos.

— Os países de alta renda, com mais tecnologia, conseguiram diminuir a mortalidade nos últimos anos, mas não conseguiram diminuir de incidência. Isso é preocupante, porque casos novos continuam surgindo. E aí a possibilidade de reduzir a mortalidade de câncer só com tratamento é muito pequena. A discussão no mundo inteiro, hoje, é se investimento em tecnologia e avanço científico, sozinhos, dão conta de reduzir as ocorrências de câncer e os índices de mortalidade. E pesquisas mundo afora têm mostrado que isso não é possível, sem reduzir os fatores de risco — analisa Corrêa.

O médico destaca que um investimento conjunto em prevenção deve ter objetivos de longo prazo.

— É preciso reverter a priorização dos recursos, que hoje em dia vão quase sempre para a busca de novos tratamentos, e trabalhar mais sobre os fatores de risco. O problema é que, para isso, é necessário brigar com a indústria farmacêutica, a indústria de alimentos, a do tabaco, a de álcool, a dos automóveis. Além disso, o investimento na prevenção só começará a render frutos 15 anos depois. Então, é preciso que haja uma conscientização da sociedade de que esse tipo de ação tem que ser política de estado, independentemente de qual governo está no poder.

Atualmente, 8,2 milhões de pessoas morrem de câncer no mundo a cada ano, de acordo com o Inca. E, segundo a Associação Americana de Câncer, existem 28 milhões de sobreviventes da doença no mundo.

Apesar dos claros avanços em tratamentos de muitos tipos de câncer, outros ainda permanecem quase uma incógnita, ressalta Ronaldo Corrêa.

— Hoje em dia, praticamente 80% dos tumores sólidos, como o de próstata e o de mama, são curáveis. Mas alguns cânceres, como o de esôfago, fígado, pâncreas e certos tipos de câncer de pulmão, permanecem com prognóstico ruim mesmo depois de 40, 50 anos do início das pesquisas. A sobrevida, em geral, ainda é curta, e a mortalidade é alta. No futuro, vemos que o tratamento custará muito mais do que investir em prevenção — afirma o especialista.

 

– Fonte: Portal O Globo