Infecções são causa de 30% das internações de quem tem câncer

GABRIEL ALVES DE SÃO PAULO

Um levantamento do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) mostra que 30% das internações de pacientes com câncer se devem a infecções generalizadas (também conhecida como sepse), o que equivale a cerca de 100 pacientes por mês na instituição.

O objetivo do estudo é ressaltar a importância de os hospitais padronizarem o atendimento a quem tenha suspeita de sepse –isso acontece no Icesp, mas não em boa parte dos hospitais, o que deve fazer com que os números sejam ainda mais altos em outras instituições.

Um dos problemas é que os sintomas são inespecíficos, o que significa que o diagnóstico nem sempre é imediato.

No caso de pacientes com câncer, é especialmente preocupante. O organismo já é naturalmente imunologicamente mais frágil nesses pacientes, o que justifica tomar uma série de cuidados, como, por exemplo, lavar as mãos e ter bons hábitos de higiene.

O choque séptico é a forma mais grave da sepse, quando a função dos órgãos já está comprometida. O índice de mortalidade no país é de 55%. Na Europa, América do Norte e Austrália o índice é de 25%, de acordo com a cardiologista especialista em UTI do Icesp, Ludhmila Abrahão Hajjar, que também é professora da Faculdade de Medicina da USP.

TRATAMENTO DE CÂNCER

O próprio tratamento contra o câncer podem aumentar o risco de infeção, explica o oncologista do Centro Oncológico da Beneficência Portuguesa de São Paulo Fernando Maluf.

Isso porque técnicas como a quimioterapia e a radioterapia também podem agredir as células brancas do sangue ou provocar lesões locais, respectivamente.

No primeiro caso, o organismo perderia a principal linha de defesa interna ao organismo. Já no segundo, as lesões funcionam como porta de entrada para germes.

No entanto, as chances variam de acordo com o tipo de tumor. No caso de um câncer no sangue como a leucemia, por exemplo, a chance de a internação se dever a uma infecção é muito maior do que quando uma mulher está fazendo controle de metástase com uma quimioterapia, diz Maluf.

No tratamento de alguns cânceres mais complicados, que apresentam risco de gerar infecção, podem ser administrados antibióticos profilaticamente e existe até um medicamento injetável que é capaz de estimular a produção de células brancas para proteger o organismo.

Uma doença aumenta aumenta muito agressividade da outra, explica Ludhmila: um paciente com câncer tem uma chance maior de morrer.

“O pior é que depois do choque séptico, a pessoa fica pelo menos 20 dias internada. O paciente fica débil, fraco, desnutrido e para voltar ao tratamento oncológico pode demorar de meses a anos.”

A sepse atinge 400 mil pessoas anualmente no país e grande parte das pessoas morre por conta de uma demora em iniciar o tratamento –algumas horas podem fazer a diferença.

Entre as possíveis causas da da infecção generalizada e do choque séptico estão infecções mal resolvidas, como a urinária, a gástrica ou mesmo uma pneumonia. Os pacientes que tenham infecções recorrentes também devem estar atentos e procurar um médico.

A reação inflamatória provocada pelos micróbios acaba afetando o funcionamento de todos os órgãos, lesando os tecidos e prejudicando seu funcionamento normal. “O rim para, o fígado para”¦ é complicado”, diz a médica.

Fonte: Folha de S.Paulo