Hormônios vegetais atenuam sintomas do climatério

A menopausa e o climatério são eventos inevitáveis para todas as mulheres, saudáveis ou não, que desfrutam do privilégio da longevidade. Estima-se, inclusive, que ambos marquem um terço da vida delas. Embora a terapia de reposição hormonal (TRH) seja efetiva em combater os sintomas mais desagradáveis dessa condição, há pacientes receosas quanto aos possíveis efeitos negativos à saúde do tratamento e que, diante disso, optam por remédios à base de plantas. Um estudo publicado recentemente na revista Jama sugere que os suplementos à base de vegetais podem oferecer algum alívio ao problema, o que explica o fato de 40% a 50% das ocidentais complementarem as terapias tradicionais com esse tipo de produto. Especialistas ouvidos pelo Correio e até o próprio autor do estudo acautelam, porém, que os resultados não justificam o uso indiscriminado das substâncias.

O coordenador do curso de farmácia da Anhanguera de Campo Limpo, em São Paulo, Francisco Correia Junior explica que alimentos, suplementos e chás, mesmo que obtidos de plantas com atividades medicinais, não são considerados fitoterápicos. “Eles, por definição técnica e determinação legal, são medicamentos exclusivamente derivados de drogas vegetais. No Brasil, regulamentamos como remédios convencionais”, diferencia o farmacêutico, que não participou da meta-análise conduzida por Taulant Muka, da Universidade Erasmus, na Holanda.

O cientista da instituição holandesa investigou suplementos de fitoestrógenos, que são substâncias parecidas com hormônios vegetais. “O fitoestrógeno tem uma estrutura molecular muito similar aos estrogênios. Em alguns casos, como o da substância ginesteina, um flavonoide encontrado na soja, a molécula é quase uma cópia do estrogênio. Assim, supõe-se que o efeito biológico seja o mesmo. E muitos resultados apontam que realmente são”, conta Francisco Correia.

A partir da análise de 62 estudos sobre a ação de fitoestrógenos em 6.653 mulheres, Taulant Muka descobriu que isoflavonas (de soja, na dieta ou em extratos) e trevo-vermelho promovem uma modesta redução na quantidade de ondas de calor e secura vaginal, que também foi amenizada com remédios à base de erva-de-são-cristóvão (Actaea racemosa). “Mas elas não ofereceram quaisquer efeitos nos suores noturnos”, nota o autor. O estudo indicou ainda que aquelas com sintomas leves e moderados do climatério, cerca de 30%, se beneficiam dos fitoestrogênios, sobretudo das isoflavonas. Apesar de naturais, Muka frisa que eficácia a longo prazo e a segurança dessas terapias precisam ser mais claras. “A adoção de um estilo de vida saudável ainda é a espinha dorsal para aliviar o desconforto dos sintomas”, defende o autor.

 

Fonte: Correio Braziliense