FELIZ, SAUDÁVEL E ACIMA DO PESO

Seis mulheres lindas e sexies foram “o” assunto da semana passada. Modelos da nova campanha da marca de lingerie plus size Lane Bryant, elas posaram para as câmeras com quilos extras e muita sensualidade, em uma clara provocação à Victoria’s Secrets, que lançou uma coleção de moda íntima para as garotas de corpo perfeito. Com a hashtag #I’mNoAngel, o lema da campanha que viralizou na internet é mostrar que toda mulher pode ser sexy, independentemente das tradições ou estereótipos de beleza impostos pela sociedade. Linda Heasley, presidente da marca, enfatizou que a ideia é incentivar as mulheres a amar todas as partes de seu corpo.

Peças publicitárias que retratam mulheres e homens acima do peso como exemplos de beleza e sensualidade são minoria, quase raridade. Mas essa visão preconceituosa, alicerçada em um padrão estético em que só a magreza tem lugar, vai, aos poucos, ganhando novos e fartos contornos. Esse novo olhar para o gordinho, para o forte, para o “excesso de fofura” e tantos outros eufemismos que já revelam a dificuldade de nossa sociedade se dirigir à pessoa obesa ou acima do peso tem suas raízes na mudança do padrão corporal: a obesidade vem aumentando na grande maioria dos países desenvolvidos e também nos países em desenvolvimento, com poucas exceções.

O gordo, que por tantas gerações foi visto como o feio, o descuidado, o desanimado, está agora em quase todos os lares. Pode não ter voltado a ser padrão de beleza, como já foi no passado, mas de acordo com os últimos dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, pesquisa anual do Ministério da Saúde, 50,8% dos brasileiros estão acima do peso ideal. Desses, 17,5% são obesos. O cenário é resultado do consumo excessivo de alimentos, em conjunto com exercício insuficiente, mas essa fórmula não consegue explicar a rapidez com que a epidemia de obesidade se espalhou globalmente nas últimas décadas.

Pesquisadores acreditam em uma combinação complexa de fatores. Segundo a endocrinologista Cíntia Cercato, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), estudos já determinaram que a genética é responsável por 60% do peso de um indivíduo. Portanto, mais determinante que os próprios hábitos de vida. O American Journal of Clinical Nutrition publicou este mês o resultado de um estudo que, por 12 anos, acompanhou 334 mil europeus para concluir que a inatividade física é responsável por duas vezes mais mortes que a obesidade.

EXERCÍCIOS FÍSICOS Outro estudo recente demonstrou que o grande vilão nas mortes por doenças cardíacas e câncer não é o excesso de peso, como se imaginava, mas também a inatividade física. A pesquisa, com 43 mil voluntários, identificou pessoas com sobrepeso e obesos com níveis normais de glicose, concentrações elevadas do “bom colesterol”, triglicérides baixos e pressão arterial controlada. “Constatou-se que mais de 50% daqueles com excesso de peso poderiam ser considerados metabolicamente saudáveis. E o mais interessante: o grupo de “gordinhos” metabolicamente saudáveis não tinha risco de morrer maior que os magros também metabolicamente saudáveis”, comenta o cardiologista e médico do esporte Marconi Gomes da Silva, presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício e do Esporte (Smexe).

E, assim como é possível estar saudável mesmo acima do peso, é absolutamente natural encontrar pessoas de bem com o corpo. A consultora de marca e estilo Rafa Coelho, de 34 anos, extremamente magra durante a maior parte de sua vida, chegou a engordar 10 quilos para realizar o sonho de se casar com um vestido “de sereia”, que insistia em não cair bem em seu corpo, àquela época sem curvas. Mas, durante a gravidez da filha, teve hiperêmese gravídica, excesso de náuseas e vômitos que impedem a gestante de comer. Passou a gestação internada, por ter chegado aos 43 quilos e, para manter ela e a filha vivas teve que se submeter a um tratamento à base de corticoides e suplementos alimentares, imprescindíveis para reverter a desnutrição extrema. Após a gestação, ganhou mais de 50 quilos, o que não viu como um problema. Hoje, modelo plus size e coautora do site Das Plus (), do portal Uai (www.uai.com.br), está feliz e bem resolvida com o corpo, mais feminino.

“No mais, beijinho no ombro pra quem não gosta de gordo e tem preconceito com qualquer coisa”, afirma.

 

Fonte: ESTADO DE MINAS