DETOX: SIM OU NÃO?

A moda é desintoxicar. E como ocorre com todos os modismos em alimentação, os holofotes se voltam para as dietas detox, para o bem ou para o mal. Especialistas não entram em consenso. Alguns afirmam que essa “limpeza do corpo” é desnecessária, já que o organismo seria naturalmente capaz de se manter, com ajuda de órgãos dedicados à limpeza do sangue e do intestino. E mesmo os que defendem a alimentação detoxificante chamam a atenção para o perigo de fazê-la sem acompanhamento. Segundo Raquel Raizel, doutoranda em ciência dos alimentos pela Universidade de São Paulo (USP), estudos recentes verificaram uma associação entre a exposição aos poluentes orgânicos e o aparecimento de diabetes, e há hipóteses de que produtos químicos alterem a capacidade do organismo para metabolizar gorduras, induzindo ao ganho de peso. “Porém, não há evidência científica suficiente que apoie a submissão aos procedimentos chamados desintoxicantes”, alerta.

 

Para a nutricionista esportiva Rafaelly Cristina, existe verdade, mas também sensacionalismo sobre a dieta detox, que nada mais é do que uma alimentação com alto teor de compostos bioativos, vitaminas (principalmente as do complexo B), minerais (especialmente o magnésio), carboidratos de baixo índice glicêmico, bom perfil de lipídios e proteínas de alto valor biológico e de rápida digestão e absorção. “Ou seja, tudo em que uma alimentação saudável e equilibrada deve se basear. Porém, da mesma forma como esses alimentos são incrementados, outros são excluídos. Aí está o perigo. A restrição de gorduras, por exemplo, pode comprometer a absorção de vitaminas lipossolúveis. Já a drástica e prolongada restrição de proteínas pode prejudicar a formação de hormônios e reparação de tecidos, assim como impactar sobre os níveis de ferro, favorecendo ao desenvolvimento da anemia”, alerta a nutricionista.

A decoradora Denise Bethônico Dias, de 59 anos, fez uma dieta detox com acompanhamento de nutricionista. Para facilitar, aderiu aos kits detox, em que as refeições já vêm porcionadas por determinado período. “Emagreci mais de três quilos e fiquei muito feliz, tanto que continuei na terceira e na quarta semanas”, conta Denise, que, depois de 30 dias de dieta detox, mantém-se com uma dieta equilibrada e de três em três meses faz uma semana de dieta detox. Alguns hábitos desse período, entretanto, mantiveram-se. Todos os dias, pela manhã ou à tarde, ela toma um suco detoxificante. “Em um liquidificador bato couve, rúcula, espinafre e água e faço cubos de gelo dessa mistura. Assim, todos os dias, só preciso bater essas pedras de gelo verde com a fruta que tiver na geladeira, uma pera, maçã, ou mesmo um suco orgânico de uva branca. Preciso consumir vegetais verde-escuros e esse suco me sustenta”, ensina.

Mas o suco que faz bem a Denise faria também às outras pessoas? Afinal, quando a desintoxicação é interessante? E, se necessária, como deve ser feita? Antes de aderir, ou não, é preciso se livrar das dicas passadas de boca em boca. O Bem Viver ouviu especialistas sobre o assunto. Aqui também eles não chegaram a um consenso, mas compartilham benefícios e alertam para alguns riscos. Limpo de modismos ou preconceitos, você decide se vai encarar.

TOXINAS NATURAIS
Alguns alimentos podem conter toxinas naturais potencialmente nocivas, que podem estar presente na forma de pesticida natural para proteger a planta. A toxina também pode se formar durante a manipulação e processamento do alimento. Agências reguladoras, como a Anvisa no Brasil, visando à proteção do consumidor, têm criado especificações e definido limites para certas substâncias, níveis de tolerância, rótulos de advertência e proibições. Além disso, os produtores de alimentos têm desenvolvido procedimentos para reduzir toxinas induzidas pelo processamento. Apesar dos cuidados, o consumo de baixos níveis dessas substâncias é inevitável e, embora a incidência de reações adversas aos alimentos seja relativamente baixa, não se descarta a possibilidade de toxicidade por contaminação, consumo excessivo ou alergia.

Equilíbrio saudável 
Dieta da moda apregoa limpeza do organismo por meio de alimentos ricos em fibras, vitaminas e minerais. Mas deve fazer parte de uma rotina nutricional adequada

Para a medicina alternativa, desintoxicar é eliminar toxinas nocivas ao corpo, em curto ou longo prazo. Segundo Raquel Raizel, doutoranda em ciência dos alimentos pela USP, o resultado cumulativo dessas toxinas poderia causar efeitos indesejáveis à saúde, mas seria possível a prevenção desse quadro por meio de dieta, jejum e purificação do intestino, entre outros. As dietas detox nada mais são do que planos alimentares que garantem ter esses efeitos desintoxicantes. Sugerem sugere que a maioria dos alimentos contém contaminantes como realçadores de sabor, corantes alimentares, pesticidas e conservantes. Elas também se propõem a livrar o corpo de substâncias tóxicas, que podem estar presentes em produtos de beleza (mercúrio), desodorantes (alumínio) e nos plásticos (Bisfenol A), bem como dos chamados xenobióticos (compostos químicos estranhos ao organismo ou sistema biológico, como agentes poluentes e medicamentos).

As dietas detox são frequentemente ricas em fibras, provenientes de frutas, verduras e legumes, e propõem aumentar o fornecimento de vitaminas e minerais para auxiliar os sistemas antioxidantes do corpo. Também são utilizadas ervas, suplementos alimentares e laxantes para a limpeza do cólon. Segundo Raizel, pessoas que praticam a limpeza do cólon acreditam que o acúmulo de fezes putrificadas nas paredes do intestino grosso abriga parasitas ou patogênicos da flora intestinal, causando problemas de saúde. A nutricionista Rafaelly Cristina acredita que, olhando pelo lado positivo, a inclusão desses alimentos pode ser muito benéfica no sentido de aumentar o aporte de fibras, antioxidantes, vitaminas e minerais. Mas só quando usadas de modo complementar a uma rotina alimentar adequada e individualizada.

Para ela, entre os erros mais comuns dos seguidores da dieta está o fato de recorrerem à detox após períodos de festas e eventos, ou por aqueles que buscam perda de peso imediata. Mas ela acredita que não existe necessidade, e muito menos sentido, em se realizarem restrições exageradas ou apelar para métodos “milagrosos” para tentar compensar todos os danos e prejuízos causados ao nosso organismo um estilo de vida inadequado por vários anos. A desintoxicação pode ser feita em casos de necessidade diagnosticada, nunca visando emagrecimento, que é uma consequência do processo. Segundo Raizel, embora sem evidências científicas suficientes, a finalidade é reduzir o caráter tóxico das substâncias e eliminá-las, mas, a partir do momento em que se retiram essas substâncias e se introduzem alimentos geralmente menos calóricos, o metabolismo pode reagir melhor e, consequentemente, ocorrer o emagrecimento.

AVALIAÇÃO 
Para a nutricionista Débora Fernandes Rodrigues, mestre e doutoranda em ciência de alimentos pela UFMG, o indivíduo que deseje emagrecer deve investir em hábitos de vida saudáveis, o que, para ela, inclui uma dieta permanente com caráter desintoxicantee, rica em fitoquímicos, vitaminas e minerais. Mas reforça que a verdadeira dieta para desintoxicaçãoo é a que visa favorecer a eliminação de xenobióticos. “E é sempre importante procurar ajuda profissional, pois cada pessoa tem a sua individualidade bioquímica e isso significa que nem sempre o que é bom para um é bom para o outro”, alerta. Nada de fazer a dieta porque a vizinha fez e emagreceu.

Normalmente, nosso organismo consegue minimizar o impacto deletério das toxinas. Para Débora, a dieta detox e a eliminação de alimentos e contaminantes específicos, o que pode durar de poucos dias a algumas semanas, é uma indicação se a exposição a determinado xenobiótico for crônica, ou se a carga tóxica a que a pessoa é submetida for alta. O processo de desintoxicaçãoo é vital não só para eliminar toxinas alimentares, mas também álcool, fármacos, poluentes ambientais. Mas, para que isso ocorra de forma eficiente, é importante que o indivíduo esteja saudável. “É nesse ponto que o equilíbrio nutricional e o consumo de substâncias que estimulem as vias de desintoxicação podem ajudar”, explica a pesquisadora.

 

Fonte: ESTADO DE MINAS