CONDIMENTO CULINÁRIO OU MEDICAMENTO?

Tem gente que não consegue cozinhar sem alho, já que o vegetal (em forma de raiz) é a ‘cereja do bolo’ quando se quer acentuar o sabor. Mas é no seu bulbo, conhecido como dente/cabeça, que há uma maior concentração de fitoquímicos.

Não é a toa que referências históricas apontam o uso de diversas plantas para a manutenção da saúde e o tratamento de doenças, sendo o Allium sativum L.Presença marcante nestes registros.

Os construtores egípcios consumiam-no para obter força e resistência e plantavam nas encruzilhadas como sinal de proteção contra possíveis malefícios, enquanto os gregos o consideravam fonte de fortaleza física e, por isso, o ofereciam aos atletas antes dos Jogos Olímpicos.

Na Idade Média era utilizado para combater a peste. E até Louis Pasteur, em 1858, reconheceu suas propriedades antibacterianas, ao passo que, nas duas Guerras Mundiais, os médicos usaram-no para tratar ferimentos. O cultivo tem a sua origem na Ásia Central e no Oriente Médio, há cinco mil anos. Seu uso culinário surgiu no Oriente, em 2000 anos a.C.

Componentes sulfurados

Segundo o terapeuta Expedito Nobre Braga, uma frase popular diz que o alho cura tudo, ou quase tudo. Descontando-se o exagero da afirmativa, ele enumera os benefícios desse alimento. Nos últimos 30 anos, foram feitos muitos estudos sobre as propriedades farmacológicas do alho, sendo a maioria atribuída aos componentes sulfurados.

Contém mais de 100 compostos de enxofre, dentre eles com sua possível atividade biológica: Aliina (hiportensor, hipoglicemiante); Ajoeno/ajocisteína (previne a formação de coágulos, anti-inflamatório, vasodilatador, hipotensor, antibiótico); Alicina e tiosulfinatos (antibiótica, antifúngica, antiviral); Alil maercaptano (hipocolesterolemiante, antioxidante, quimioprotetor frente ao câncer); sulfeto dialil (hipocolesterolemiante).

Quando não exagerar

Com resultados terapêuticos reconhecidos no Brasil, pelo Ministério da Saúde (MS), e nos Estados Unidos, pelo Food and Drug Administration (FDA), o alho tem seu uso externo indicado para eliminar calos e verrugas.

Expedito Braga chama atenção apenas para os casos de contraindicação, uma vez que não é recomendado durante a amamentação, assim como para as pessoas com problemas de coagulação.

“O seu uso em doses elevadas, complementos dietéticos ou em fórmulas fitoterápicas deve ser interrompido antes de intervenções cirúrgicas, para evitar o risco de hemorragias”, explica o terapeuta.

Estudos epidemiológicos evidenciaram que o consumo de alho reduz o risco de desenvolver determinados tipos de câncer, como o gástrico, o colorretal, de mama e próstata. Sua ação antioxidante bloqueia ou elimina substâncias cancerígenas, antes que cheguem a lesionar as células. Inibe a formação de nitrosaminas, substâncias que podem danificar o DNA celular.

Reduz o risco de desenvolver um tumor, já que seus compostos fitoquímicos conduzem à morte as células cancerosas, por intermédio do processo de apoptose (se destroem), ou seja, reduzem o crescimento ou propagação do câncer.

Vale lembrar que o alho estimula a proliferação de linfócitos e de macrófagos e fortalece as atividades das células assassinas naturais. Tantos benefícios assim elevam o vegetal à condição de curar quase tudo, mas nada que não deva ser submetido à apreciação de um médico.

 

FIQUE POR DENTRO

Alho negro fermentado é uma boa opção

O processo de produção do alho negro acontece com a fermentação do alho in natura em temperatura de cerca de 65º C, o que garante uma maior maciez, sabor e textura.

Ainda pouco conhecido no Brasil, a versão negra não possui a inclusão de nenhum aditivo químico, enquanto o seu processo de fermentação apenas potencializa as características do alho in natura.

As propriedades antioxidantes, que evitam a formação de radicais livres no organismo, também estão presentes no alho negro. Segundo o Centro de Análise Alimentar do Japão, elas são mais fortes do que as encontradas no alho fresco. Hipertensão arterial, altas taxas de colesterol, glicose e triglicérides podem ser combatidas por causa do alto nível de polifenol presente no alimento. ”

“Análises laboratoriais apontam que o alho negro possui poder de prevenir ou remediar numerosas doenças associadas ao estilo de vida contemporâneo”, explica o agrônomo pela Universidade Agrícola de Tóquio, Fernando Kondo.

No Brasil, o Alho Negro do Sítio realiza a fermentação desde 2010. O sítio é mantido por um casal de agricultores japoneses no interior de São Paulo, e o produto passa por rigoroso controle de qualidade, que abrange desde a seleção do alho fresco para a fermentação até o processo de embalagem.

Fonte: DIARIO DO NORDESTE