Cientistas tornam droga mil vezes mais potente para combater superbactérias

LA JOLLA, Califórnia — As infecções provocadas por bactérias resistentes a antibióticos — conhecidas como superbactérias — são apontadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das principais ameaças para a saúde humana, por isso pesquisadores e laboratórios de todo o mundo buscam novos medicamentos capazes de combater esses micro-organismos. No Scripps Research Institute, em La Jolla, na Califórnia, a equipe do bioquímico Dale Boger conseguiu realizar alterações estruturais na vancomicina, tornando-a mil vezes mais potente e praticamente imune a mutações.

— Os médicos podem usar essa forma modificada da vancomicina sem temer o surgimento de resistências — afirmou Boger sobre o estudo publicado nesta segunda-feira no periódico “Proceedings of the National Academy of Sciences”.

Criada em 1954, a vancomicina é uma das principais drogas para o tratamento de infecções bacterianas graves, indicada normalmente após a falha de outras terapias. Contudo, nos últimos anos algumas bactérias começaram a apresentar resistência até mesmo a esse medicamento, considerado última opção para uma série de infecções. Segundo a OMS, é preocupante a existência de cepas resistentes de Enterococcus Faecium e Staphylococcus Aureus circulando.

Mesmo assim, Boger classifica a droga como “mágica” por seu poder comprovado no combate às infecções. E para manter essa eficácia, o pesquisador busca novos mecanismos de ação, executando pequenas alterações químicas em suas moléculas. Em estudos anteriores, a equipe de Boger já havia criado duas alterações, que tornaram a droga mais potente e menos suscetível às cepas mutantes. Com esta terceira alteração, a vancomicina se tornou mil vezes mais ativa. Com isso, os médicos precisam receitar menos antibióticos nos tratamentos.

— Com essas modificações, você precisa de menos drogas para ter o mesmo efeito — disse Boger.

TRÊS MECANISMOS DE AÇÃO

Em laboratório, a vancomicina potencializada se tornou eficaz contra cepas de Enterococcus, tanto as comuns como as resistentes à versão original da própria vancomicina.

— E isso também aumenta a durabilidade desse antibiótico — disse Boger. — Os organismos não podem trabalhar simultaneamente na busca de soluções para três mecanismos independentes de ação. Mesmo que eles encontrem resposta para um deles, os organismos ainda serão mortos pelos outros dois.

O próximo passo será criar uma técnica simplificada para sintetizar a vancomicina modificada. O método atual tem 30 etapas. Mas mesmo que um novo processo não seja desenvolvido, Boger acredita que ainda assim a produção será valiosa, dado o poder da nova droga.

— Fabricar essa molécula é importante, mesmo pelo método atual, se as falhas dos antibióticos continuarem.

– Fonte: Portal O Globo