Atenção aos sinais do coração: doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil

Silenciosa e com alto poder de letalidade. A desatenção da população com cuidados básicos de alimentação e bem-estar, somada à falta de prevenção e tratamento de fatores de risco, faz das doenças cardiovasculares a principal causa de morte no Brasil e no mundo. Medidas simples poderiam melhorar um quadro preocupante. Além disso, um terço dos óbitos registrados em todo o planeta poderiam ser evitados. Nos casos mais graves, o coração segue a evolução da medicina, com as cirurgias que se mostram cada vez mais seguras e menos invasivas para os pacientes.
Quando o assunto são as mortes por problemas de coração, os resultados são mostrados no superlativo. De acordo com estimativas da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cerca de 350 mil brasileiros morrem por ano e 1 mil por dia acometidos por problemas no órgão que é o símbolo da vida. A cada 40 segundos, uma pessoa perde a vida por esse motivo. Esses números representam duas vezes mais que os óbitos causados por todos os tipos de câncer reunidos e 2,5 vezes mais que a terceira causa de mortes no Brasil – acidentes de trânsito. São também 100 vezes mais que aqueles decorrentes de doenças infecciosas, incluindo a Aids. O levantamento está disponível em www.cardiometro.com.br, um contador da SBC feito especialmente para medir e mostrar esse drama do país.

E quem pensa que coração é doença de idoso, engana-se. Com a chegada dos antibióticos, vacinas e medidas de saneamento básico nas décadas de 1940 e 1950, a população passou a morrer menos de doenças infecciosas e mais das chamadas “doenças de adultos”. Segundo o presidente da SBC, Marcus Vinícius Bolívar Malachias, o Brasil enfrenta o mesmo problema que os Estados Unidos, mas aqui morre-se cinco a 10 anos antes. “Não fazemos a prevenção e não tratamos fatores de risco. Há ainda uma dificuldade de acesso à medicina, mas as pessoas chegam até ela por meio dos programas públicos de saúde. Outro problema é que o brasileiro não controla fatores de risco: hipertensão, colesterol alto, diabetes, tabagismo, obesidade, sedentarismo e alimentação irregular”, afirma.

TABAGISMO

Segundo o cardiologista, a única vitória entre os quatro grandes fatores – hipertensão, colesterol, tabagismo e diabetes – é em relação ao fumo. Por causa das leis brasileiras que proibiram o cigarro em vários espaços e de propagandas massivas de combate ao mau hábito, o médico diz que houve redução drástica no tabagismo. “As doenças vêm se reduzindo no Brasil em relação ao crescimento da população, mas ainda é tímido tendo em vista os conhecimentos da medicina e da ciência.”

O médico, que também é professor da Faculdade de Ciências Médicas em Belo Horizonte e doutor em cardiologia pela Universidade de São Paulo (USP), aponta melhoria no atendimento da emergência nas unidades de saúde, mas diz que o país ainda peca na parte primária – a prevenção. Ele ressalta que 30% da população com idade superior a 18 anos é hipertensa, o correspondente a 36 milhões de brasileiros. Desses, só 20% têm a pressão controlada. “Temos 80% dessas pessoas sujeitas a fatores de risco e às consequências da doença, que são infarto e derrame, as principais causas de mortes cardiovasculares”, alerta Marcus Bolívar.

À medida que a idade aumenta, cresce o problema – 50% de homens e mulheres acima de 55 anos sofrem de pressão alta, por exemplo, segundo dados da pesquisa Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel), feita pelo Ministério da Saúde. “Se considerarmos que há pessoas que nem sequer sabem ter o problema, esses dados são subestimados.”
Técnicas menos invasivas
À medida que avançam as doenças cardiovasculares, avançam também os tratamentos, deixando as cirurgias que fazem médicos abrirem a caixa torácica cada vez mais no passado. Com a melhora dos tratamentos clínicos, muitas vezes nem se chega à intervenção mais radical e, quando é necessária, os cateteres e técnicas híbridas têm sido grandes aliados. Caso do implante valvar aórtico transcateter, chamado de Tavi (do inglês transcatheter aortic valve implantation), usado há mais de uma década nos Estados Unidos e Europa e indicado para o tratamento de pacientes idosos de alto risco com diagnóstico de estenose valvar aórtica (condição que calcifica uma das válvulas cardíacas). No Hospital Madre Teresa, a técnica é aplicada pela equipe de cardiologia por meio dos serviços de hemodinâmica e cirurgia cardiovascular.

Nesse procedimento, a válvula é substituída por inserção de um cateter de 18 milímetros de diâmetro na perna, que segue até o coração. O procedimento é minimamente invasivo e traz diversos ganhos para o paciente, como a redução da taxa de mortalidade de 30% na cirurgia tradicional de peito aberto para 4% na intervenção para implante da Tavi, segundo os médicos Marcos Antônio Marino (coordenador do Serviço de Hemodinâmica), Rodrigo Bernardes (coordenador do Serviço de Cirurgia Cardiovascular) e Fernando Roquette Reis (cirurgião cardiovascular do Madre Teresa). O tempo de cirurgia também é diferenciado e pode durar cerca de uma hora e meia – no procedimento tradicional, pode chegar a cinco horas.

Menos tempo de internação, menos risco de sangramentos e complicações e retorno mais breve às atividades habituais são outros ganhos, muito parecidos com as vantagens do Da Vinci, primeiro e único sistema robótico de Minas Gerais, considerado o que há de mais inovador no campo da cirurgia minimamente invasiva. O robô foi comprado pela Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma) – mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas, do Instituto de Pós-Graduação, do Hospital Universitário Ciências Médicas (antigo São José) e do Instituto Robótica. E está montado no Hospital Vila da Serra, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Nessas intervenções, o médico usa uma ferramenta com visualização tridimensional e alta definição para reproduzir todas as características de uma cirurgia aberta convencional. Além de atuar em várias cirurgias, entre elas a cardíaca, o Da Vinci surge como possibilidade de pesquisa e experimentação de novas técnicas cada vez menos invasivas.

Fonte: Revista do Correio Braziliense