Você usa medicamentos e cosméticos manipulados? Saiba mais

A individualização do tratamento é uma das vantagens dos medicamentos manipulados. “A maioria deles é feita a partir da prescrição médica, sempre buscando o respeito às necessidades do paciente”, afirma a farmacêutica Rosângela Greghi.

Assim, o médico indica o  tratamento sob medida, na quantidade certa, de acordo  com a posologia e a duração necessária, permitindo o uso racional do medicamento – o que resulta em menor desperdício e maior economia para o paciente.

Há, claro, uma série de produtos já conhecidos na farmacopedia (coleção de fórmulas de drogas e medicamentos), como tintura de iodo, pasta d’agua etc., ou fitoterápicos e cosméticos que podem ser vendidos sem receita.

E, da mesma forma que os medicamentos industrializados, alguns requerem prescrição médica e outros, não.

Segundo Rosângela, outra vantagem da manipulação é a possibilidade de associar vários princípios ativos em um só. “Às vezes, em uma mesma fórmula, juntamos três, quatro fármacos com funções e indicações diversas, mas não divergentes”.

Na opinião dela, essa medida permite a diminuição do número de tomadas e de custo também. “E tem reflexo positivo na adesão ao tratamento”.

O que também ajuda na adesão são as formas diferenciadas de administração, como shakes, gomas de mascar, sachês, iogurtes e até gotas de chocolate (usadas como veículo para um composto vitamínico com derivados de ferro, por exemplo, que tem sabor forte e costuma causar rejeição por parte das crianças).

Para o presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Tadeu Fernando Fernandes, a vantagem, realmente, é a personalização. “Geralmente, prescrevem-se medicamentos que não existem no mercadona dose e especificação para determinado paciente, ou quando o médico quer personalizar uma prescrição, diferente das tradicionais… Para doenças mais raras e casos excepcionais”.

Ele, porém, faz uma ressalva sobre as apresentações em forma de chocolate, balinha ou algo atraente para crianças.

“Isso aumenta o risco de intoxicações medicamentosas e acidentes”. Dessa forma, todo cuidado é pouco para os pais que lançarem mão desse recurso!

Época medieval

A história da farmácia de manipulação, ou magistral, remonta ao século 10, quando existiam as boticas. Lá, o boticário manipulava e produzia o medicamento na frente do paciente, de acordo com a farmacopeia e a prescrição.

“A manipulação vem desde a época medieval. Com o advento da indústria, da penicilina especialmente (1940), ela perdeu espaço. Mas, nos anos 80, voltou. Os médicos que mais a prescreviam eram os dermatologistas, endocrinologistas e reumatologistas. Agora, atendemos a praticamente todas as especialidades, com exceção da oncologia e de sais que ainda estejam protegidos em leis de patente”, arremata Rosângela.

“Em farmácia magistral, é possível produzir uma variedade de medicamentos para administração tópica (para tratamento de acne, caspa, pele ressecada, alergias na pele e proteção solar) ou oral (antialérgicos, analgésicos, anti-inflamatórios e laxantes).

Os produtos de uso tópico podem ser formulados nas formas de cremes, géis, loções, pomadas, pastas, xampus etc. Já os de uso oral, em cápsulas, xaropes, soluções, suspensões… Qualquer pessoa pode se beneficiar, mas o preparo de formas personalizadas tem especial importância nos casos de dificuldade na administração de comprimidos a crianças ou idosos com problema de deglutição, por exemplo. Dependendo das características químicas e físico-químicas da substância ativa, o medicamento pode ser manipulado sob a forma de um xarope, solução ou suspensão”, atesta o farmacêutico Rogério Hoefler, do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos, do Conselho Federal de Farmácia (CFF).

Ainda de acordo com Hoefler, sob o ponto de vista técnico, os medicamentos preparados em farmácias de manipulação podem substituir muitos dos industrializados, especialmente os utilizados por curto prazo. “Os de uso prolongado, para tratar doenças crônicas e aqueles cuja margem terapêutica é pequena, ou seja, a diferença entre a dose mínima terapêutica e a dose tóxica é estreita, requerem cautela em razão da possibilidade de oscilações na composição”.

Beleza e cuidados

E se existe um mercado que sempre lança novidades e vive aquecido é o da beleza, não é verdade? De acordo com a especialista em dermo e nutricosméticos Mika Yamaguchi, que é farmacêutica e diretora científica da Biotec, conceitos como efeito lift para o pescoço, remodelação facial, hidratação anti-idade e o uso de cápsulas antioxidantes estão entre os destaques da área. “Para a maioria desses tratamentos, a farmácia de manipulação pode ser uma grande aliada, pois já possui ativos altamente tecnológicose inovadores.

O ideal é sempre procurar um dermatologista para que ele possa personalizar a fórmula de acordo com a necessidade da pele”, explica a profissional.

Rosângela Greghi também afirma que o uso de cosméticos e de nutracêuticos (com nutrientes que proporcionam benefíciosà saúde) cresceu muito.

“Além disso, os cosméticos podem ser multifuncionais, ou seja, um mesmo produto pode conter antirrugas, hidratante, filtro, despigmentante e base hidratante. Cinco insumos em um só”.

Assim como os efeitos, as reações adversas esperadas são as mesmas dos medicamentos convencionais. Mas Rogério

Hoefler alerta: “Qualquer medicamento produzido conforme as normas técnicas apropriadas, independentemente de manipulado ou industrializado, tem a possibilidade de não surtir efeito. Isso ocorre porque dificilmente um medicamento é efetivo para todas as pessoas que o utilizam. A regra geral é sempre adquiri-lo em local regular perante os órgãos sanitários e, em caso de falha terapêutica, consultar o farmacêutico e/ou o médico. Muitas vezes, ajustes na dose empregada ou na forma de uso resolvem o problema.

Caso isso não seja suficiente, pode ser necessária a troca do medicamento por um de composição diferente”.

Por outro lado, os casos de falha terapêutica com suspeita de problema com a qualidade ou mesmo de falsificação do medicamento devem ser notificados ao órgão de vigilância sanitária, complementa o profissional do CFF, que esclarece também:n A Vigilância Sanitária é a instância responsável pela elaboração de normas sanitárias relacionadas à produção de medicamentos e pela fiscalização dos estabelecimentos para garantir o cumprimento das mesmas.

O Conselho Federal de Farmácia e os conselhos regionais de Farmácia, respectivamente, estabelecem normas e fiscalizam seu cumprimento, no que se refere ao exercício profissional do farmacêutico.

– O uso de qualquer medicamento, industrializado ou magistral, requer a prescrição por profissional habilitado, seja ele o médico ou o próprio farmacêutico, conforme o medicamento. “E é sempre importante verificar a regularidade da farmácia e do farmacêutico responsável. Estabelecimentos irregulares e ilegais devem ser evitados e denunciados aos órgãos competentes”.

 

Fonte: A Tribuna de Santos