Nutrição Comportamental – Uma nova abordagem para agregar valor ao papel do nutricionista

Tem experiência de quatorze anos de aconselhamento nutricional, e de comunicação atuando como consultora, de diversos veículos de comunicação, desde mídia impressa (jornais, revistas femininas e semanais), mídia digital, rádio, e programas de televisão. Como trajetória, Cynthia fundou em 1999 seu primeiro restaurante de comida saudável: Equilibrium – Healthy Food, chegando a oito unidades em São Paulo e duas participações em temporadas de inverno em Campos do Jordão. Como parte de sua experiência, ministra várias palestras nas suas áreas de expertise: nutrição, saúde, nutrição comportamental, marketing, planejamento estratégico, tendências no mercado de alimentos, bebidas, suplementos; comunicação em saúde e nutrição, comportamento do consumidor, inovação e comunicação para indústria de alimentos, empreendedorismo.

 

Estudos que relacionam alimentação e saúde surgem diariamente. E recebem atenção da mídia, e principalmente dos profissionais de saúde que propagam estes achados. Se por um lado isso é bom para fomentar introdução de novos alimentos, melhores produtos e aplicações, por outro lado sabemos que não tem sido suficiente para melhorar a saúde da população.   Os consumidores encontram-se confusos e, com isso, demandam dos nutricionistas novos horizontes em sua abordagem, uma certa habilidade de comunicação e uma compreensão do “porque” se come, e não apenas o que se come.

Essa necessidade tem levado os nutricionistas a buscar conhecimento e prática para tornarem-se agentes da mudança de comportamento. É o que traz de forma pioneira a Nutrição Comportamental, ao ampliar a visão sobre o comer e usar técnicas de tratamento que vão além da prescrição. O  comportamento  é  um  construto  amplamente  estudado  pelas  ciências humanas, especialmente a psicologia. Embora diferenças existam entre as linhas e teorias psicológicas, em geral o comportamento pode ser definido como:

A maneira de se comportar ou de se conduzir;  Conjunto de ações e reações observáveis de um indivíduo frente às interações do meio onde se está envolvido sob determinadas circunstâncias. Ou seja, comportamento são ações, que sempre se relacionam com cognições – o conteúdo do pensamento e os processos envolvidos no ato de pensar, o modo como avaliamos as coisas; e também com os afetos – sentimentos positivos ou negativos para com alguma coisa.

Neste contexto, a Nutrição Comportamental define comportamento alimentar como um conjunto de cognições e afetos que regem as ações e condutas alimentares

.É preciso, porém, diferenciar nomenclaturas e definições muitas vezes usadas como sinônimos na área da nutrição. O que uma pessoa come não é um comportamento, o que ela come é consumo alimentar e nutricional, embora obviamente comer envolva uma ação. A quantidade de energia consumida e o tipo de alimento também não são comportamentos alimentares .Outro pondo a se considerar é de que peso não é um comportamento. E perda de peso, portanto, não é resultado de mudança comportamental, mas sim uma possível consequência. O mesmo pode ser dito para alteração de parâmetros clínicos ou bioquímicos. A mudança de comportamento se dá pela modificação da relação das pessoas com a comida – incluídos sentimentos, crenças, pensamentos e ações.

Muitas vezes o nutricionista se coloca no papel de apontar para os pacientes tudo o que acredita ser necessário mudar, mas o que ocorre é que os pacientes, em geral, sabem o que querem e precisam mudar, porém não sabem  como  fazê-lo.  E  é  justamente  neste  quesito  que  as  habilidades aprendidas por meio da Nutrição Comportamental podem atuar. Considerar a motivação e prontidão do paciente para mudança é fundamental e, mais ainda, é preciso ponderar que a educação nutricional e a prescrição dietética normalmente são insuficientes para mudar comportamento alimentar.

Em publicação de Agosto de 2016 da Today Dietitian, diferentes distorções cognitivas foram analisadas ao observar trinta anos de atendimento a pacientes obesos. Dentre elas:

 

  • Pensamento tudo ou nada:ocorre quando um paciente restritivo vai de um extremo a outro, de um lado as regras de dieta que não levam em conta as necessidades individuais, e do outro o abando de tudo porque não

conseguiu cumprir tais regras.

  • Pensamento da última chance:acontece quando, após quebrar a regra da dieta, o paciente consome o que quer e em quantidade que quer, antecipando o fato de que no dia seguinte começará a dieta novamente.
  • Pensamento de alimentos bons e ruins:rotulagem de alguns alimentos como “fora da dieta”, em geral alimentos mais ricos em calorias, açúcar, gordura, sal. O maior problema desta distorção é tornar estes alimentos mais desejados. Quando as pessoas falham em seguir as regras da dieta, este e os outros dois pensamentos distorcidos anteriores, podem resultar no consumo compulsivo destes alimentos mais calóricos.
  • Afirmações “Deve-se”:em geral refletem o entendimento de regras da dieta como sinônimo de uma alimentação saudável (Ou seja, “eu deveria comer isto se quiser ser saudável”). As afirmações “Deve-se” podem levar a sentimentos de fracasso se a pessoa consome alimentos que não são permitidos na dieta. Isso pode trazer a ideia de tudo ou nada, levando ao comer emocional no longo prazo.

Todo este processo realizado de forma sistemática pode criar uma relação ruim com comida. Os indivíduos passam a ter medo de comer por acreditarem que não são capazes de comer sem exceder. Isso tudo prejudica habilidade dos pacientes em realizar suas escolhas alimentares sozinhos. Neste caso, a maneira de considerar a alimentação, que idealmente deveria ocorrer com um olhar amplo que inclua os aspectos emocionais e socioculturais além dos biológicos, é fundamental para o trabalho com comportamento alimentar. Ainda, a maneira de comunicar as questões relacionadas à alimentação e saúde pode fazer toda diferença.

A  Nutrição  Comportamental  defende  que,  mesmo  em  uma  situação  de doença crônica ou aguda específica que prescinda de dietoterapia com exclusão ou inclusão de certos alimentos, pode haver melhor diálogo com o paciente, e um trabalho mais centrado em aconselhamento – que é a combinação de expertise nutricional e habilidade psicológica – trabalhando de forma colaborativa e não impositiva, com uma proposta construída COM o paciente e não PARA o paciente.

Para promover a mudança de comportamento alimentar na prática clínica, é preciso começar por identificar os comportamentos disfuncionais e habituais, para que possa ser proposto um trabalho com os pensamentos e

crenças que se relacionam com estes comportamentos e então o uso de estratégias de mudança de comportamento e solução de problemas.

É fundamental, portanto, conhecer as ferramentas comportamentais e teorias baseadas em estratégias de mudança de comportamento, que podem ser treinadas e aplicadas pelo nutricionista de forma sistêmica com

um mesmo paciente. A reunião destas diferentes bases teóricas em uma prática clínica é o que define a abordagem da Nutrição Comportamental.

Conheça algumas de suas bases:

  • Entrevista Motivacional: visa estimular a mudança de comportamento ajudando o paciente a lidar com a ambivalência, e trazer à tona suas motivações (extrínsecas e intrínsecas) para mudar ou permanecer como

está, dando-lhe autonomia e fazendo-o sentir-se participante das decisões da própria vida. O nutricionista deve tentar entender quais funções determinado comportamento alimentar tem na vida da pessoa e junto com ela

analisar as crenças, contradições, significados e sofrimentos que isso traz.

  • Terapia  Cognitiva  Comportamental: possibilita  a  compreensão  de como os pensamentos e sentimentos influenciam os comportamentos que envolvem a alimentação e a relação com o corpo, e oferece ferramentas

importantes para reforçar a motivação voltada à mudança de comportamento alimentar . Propõe intervenções estruturadas e orientadas ao presente, com foco na resolução de um problema atual, por meio da modificação de comportamentos que possam ajudar o paciente a aprender novas estratégias de atuação diante de uma situação problema.

  • Comer Intuitivo: tem como objetivo fazer com que os pacientes tenham uma sintonia com a comida, a mente e o corpo, baseando-se em três pilares: permissão incondicional para comer; comer para atender as necessidades fisiológicas e não emocionais, e apoiar-se nos sinais internos de fome e saciedade para determinar o que, quanto e quando comer.
  • Comer com Atenção Plena – Mindful Eating:utiliza a prática de Mindfulness (Atenção Plena), prática contemplativa da medicina definida como a  capacidade  intencional  de  trazer  atenção  ao  momento  presente,  sem julgamentos ou críticas, com uma atitude de abertura e curiosidade .

No contexto da alimentação, estimula a autonomia e o resgate de sinais internos de fome e saciedade. Busca acessar todos os sentidos na escolha alimentar, desde comer o que é gratificante e nutritivo para corpo às sensações físicas e emocionais despertadas durante o ato de comer, visando encontrar equilíbrio nas respostas à comida e/ou ambiente alimentar, ou seja, minimizar o comer emocional (comer por raiva, tédio, angústia ou tristeza).

Não é só comer consciente, demanda uma prática meditativa para acessar esses outros aspectos de regulação de sinais internos e emoções .

  • Competências alimentares: da mesma forma que o Comer Intuitivo e Comer com Atenção Plena, defende a regulação do comer pelas sensações internas, e também o interesse genuíno pela comida – apoiado no prazer,

experiências e contextos alimentares pessoais . O modelo é definido como um conjunto de habilidades autorreguladas no sentido da promoção de autoeficácia, ou seja, pessoas autônomas quanto a sua própria alimentação.

Evidências científicas apontam para o sucesso de estratégias comportamentais no aconselhamento nutricional e mudança comportamental para melhor estado de saúde, tendo inclusive vantagens econômicas, por permitir mudança de saúde com menor custo do que estratégias convencionais .

A partir disso, cientistas acreditam que a Nutrição Comportamental é a abordagem que faltava para que toda a ciência da nutrição gere resultados efetivos na saúde.  E os dados comprovam isto. O uso adequado da

Entrevista Motivacional no contexto da alimentação aumenta a adesão às orientações alimentares que, por sua vez, levam à melhora da frequência de consumo de frutas e verduras, diminuição do consumo de gordura e

consequentemente mudanças de parâmetros bioquímicos, bem como alterações corporais (ganho ou perda de peso) .

O  Comer  Intuitivo  também  mostra  uma  série  de  efeitos  positivos,  tanto comportamentais – como a redução de fatores de risco para transtornos alimentares  (principalmente  na  diminuição  de  compulsões  alimentares); aumento do prazer em comer, menos prática de dieta e menor ansiedade com relação à comida como efeitos clínicos, incluindo redução dos níveis de colesterol, triglicérides e índice de massa corpórea. E uma melhora em 86% nos comportamentos associados à obesidade, como comer emocional, comer compulsivo e comer desatento (mindless eating) foram observados nos estudos cujas intervenções foram baseadas em mindfulness .

Considerando a importância do uso de bases teóricas para a efetividade das intervenções nutricionais, uma revisão da American Dietetic Association Evidence Analysis Library Nutrition Counseling Workgroup concluiu que o aconselhamento nutricional centrado no paciente é componente importante na prevenção e tratamento de doenças crônicas, além de contribuir para a perda/ manutenção de peso, melhorar níveis de glicose em pacientes com diabetes tipo 2 e diminuir fatores de risco de doenças cardiovasculares .

Sabe-se que fortes bases teóricas e a prática são fundamentais para a aplicação adequada das técnicas comportamentais. Cabe, portanto, ao nutricionista que deseja utilizar estas abordagens eu seu consultório, buscar as ferramentas de atualização adequadas. Para uma constante atualização no tema, busque:

www.nutricaocomportamental.com.br

 

Fonte : Site Galena Nutrition