Teste identifica crianças com dificuldades de alfabetização muito antes de elas aprenderem a ler

Um estudo da Universidade Northwestern, nos EUA, publicado nesta terça-feira na revista “PLOS Biology”, se concentrou na habilidade de a criança decifrar discurso — especificamente consoantes — em um ambiente caótico e barulhento e descobriu que crianças pré-letradas, cujos cérebros processam discurso de forma ineficiente nestes ambientes são mais propensas a ter problemas com a leitura e desenvolvimento da linguagem na idade escolar.

Esta ligação recém-descoberta entre a capacidade do cérebro de processar a língua falada no ruído e a habilidade de leitura em pré-leitores “fornece um espelho biológico da futura alfabetização de uma criança”, segundo Nina Kraus, autora do estudo e diretora do Laboratório de Neurociência Auditiva da Universidade Northwestern.

Ambientes ruidosos, como casas com televisores ligados em alto volume e crianças gritando ou salas de aula barulhentas podem perturbar mecanismos cerebrais associados ao desenvolvimento da alfabetização em crianças em idade escolar. O ruído afeta particularmente a capacidade do cérebro para ouvir consoantes — faladas muito rapidamente, enquanto as vogais são acusticamente mais simples.

Neste estudo, os pesquisadores mediram diretamente a resposta do cérebro ao som usando eletroencefalografia (EEG). Eletrodos de EEG foram colocados na cabeça das crianças para que os pesquisadores acessassem como o cérebro reagia ao som das consoantes. Na orelha direita os pequenos ouviam o som ‘da’ sobreposto à voz de seis pessoas falando ao mesmo tempo. Na orelha esquerda, as crianças ouviam a trilha sonora de um filme, escolhido por elas, e que também estava passando na TV para mantê-las quietas.

— Toda vez que o cérebro respondia ao som, desligava a energia elétrica, para que pudéssemos captar como o cérebro reagia ao discurso fora do barulho — disse Kraus. — Podemos ver com extrema granularidade quão bem o cérebro extrai cada detalhe significativo na fala.

Os pesquisadores capturaram três aspectos diferentes da resposta do cérebro ao som: a estabilidade com que os circuitos estavam respondendo; a velocidade com que os circuitos foram disparando; e a qualidade com que os circuitos representados o timbre do som. Usando estas três informações, eles desenvolveram um modelo estatístico para prever o desempenho de crianças em testes-chave de alfabetização precoce.

Em uma série de experimentos com 112 crianças com idades entre 3 e 14 anos, a equipe de Kraus descobriu que sua avaliação neurofisiológica de 30 minutos prevê com precisão muito elevada o desempenho de uma criança de 3 anos de idade em vários testes de pré-leitura e como, um ano depois, com 4 anos, essa criança realizaria múltiplas competências linguísticas importantes para a leitura.

Fonte: Portal O Globo