Personalizado e high tech, mercado de hospitais de luxo cresce em São Paulo

SÃO PAULO – A crise econômica que fez muitos brasileiros perderem o plano de saúde não afetou o mercado dos hospitais privados do segmento premium. Em um mês, São Paulo ganhou dois novos centros médicos voltados para esse público: o Vila Nova Star, no Itaim-Bibi, e o Samaritano Paulista, na Bela Vista. Ao mesmo tempo, unidades já conhecidas nesse nicho, como Sírio-Libanês e Albert Einstein, investem na expansão de suas unidades dentro e fora da cidade e na compra de equipamentos mais modernos.

O maior investimento nesse segmento foi feito pela Rede D’Or São Luiz, dona do Vila Nova Star. Além da unidade paulistana, inaugurada no dia 14, o grupo abriu um hospital de luxo no Rio em 2016 e abrirá um nos mesmos moldes em Brasília, no mês que vem. “Investimos mais de R$ 1 bilhão nestas três unidades e já temos planejada uma quarta no Recife”, diz Paulo Moll, vice-presidente da rede.

Para chamar a atenção, o hospital apostou em tecnologias inéditas no Brasil aliadas à hotelaria de luxo e a um serviço personalizado. Na parte tecnológica, foram gastos mais de R$ 20 milhões na compra de dois aparelhos de radioterapia até então inexistentes no País: o CyberKnife, equipamento com braço robótico e uma câmera que acompanha os movimentos de respiração do paciente para liberar os feixes de radiação de forma mais precisa, e a TomoTherapy, capaz de soltar feixes em uma extensão maior do corpo.

“A intenção era construir um hospital de tamanho um pouco menor, acolhedor, mas absolutamente completo”, destaca Paulo Hoff, presidente do setor de oncologia da Rede D’Or.

O Vila Nova Star tem cerca de cem leitos. Na parte de hotelaria, são destaques os quartos de até 60 metros quadrados, lençóis 400 fios, amenidades da marca Trousseau e cardápio assinado pelo chef francês Roland Villard, com pratos como linguado ao curry e parmentier de pato.

O hospital também promete oferecer a cada paciente um tablet para que ele possa fazer videochamadas para o posto de enfermagem e controlar persianas, iluminação, temperatura e TV do quarto. “Traz mais conforto e autonomia ao paciente e diminui o risco de queda. Ele também pode ver a agenda do dia, resultados de exames e avaliar o atendimento da equipe. Se um profissional receber 3 estrelas ou menos, um SMS é enviado imediatamente à supervisão da enfermagem”, explica Antonio Antonietto, diretor médico do Vila Nova Star.

Piscinas terão esteiras e bicicletas subaquáticas no Hospital Samaritano Foto: Werther Santana

Reabilitação. No Samaritano Paulista, inaugurado no dia 15 de abril, alguns quartos também chegam a 60 metros quadrados, com antessala e banheiro privativo para visitantes, e o paciente tem ainda um tablet em que pode controlar as funcionalidades do espaço. Mas o que chama a atenção na nova unidade é um moderno centro de reabilitação instalado no edifício.

O espaço conta com duas piscinas equipadas com esteiras e bicicletas subaquáticas, aparelhos robóticos para reabilitação, salas de ginástica e um espaço de terapia ocupacional idêntico a uma residência, com móveis e eletrodomésticos, para que os pacientes com sequelas reaprendam algumas atividades. A ideia é continuar o acompanhamento do paciente mesmo após a alta.

“Se um paciente não continuar o tratamento após a alta, ele vive sendo reinternado. Hospitais do mundo inteiro estão cada vez mais preocupados com o ciclo completo de cuidados, da prevenção à reabilitação”, diz Valter Furlan, diretor do Samaritano Paulista. O hospital recebeu investimento de R$ 340 milhões e foi aberto com cem leitos, número que deverá chegar a 163 até o fim do ano.

Com foco em cardiologia, o novo Samaritano será o primeiro hospital do Brasil a ter o equipamento Artis Pheno, que usa uma estrutura robótica para realizar cirurgias minimamente invasivas.

Expansão. Hospitais de excelência já conhecidos também têm apostado em expansão e modernização no último ano. O Sírio-Libanês abriu em fevereiro sua primeira unidade hospitalar em Brasília e planeja inaugurar 20 centros de atenção primária em São Paulo até o final do ano para o segmento de saúde corporativa. “São unidades ambulatoriais, com médicos de atenção primária que se comunicam com especialistas através da telemedicina”, conta Paulo Chapchap, superintendente do Sírio-Libanês.

O hospital também adquiriu há pouco mais de um ano o primeiro equipamento PET/CT digital do País, usado no diagnóstico de câncer, e deverá colocar em operação em breve dois aparelhos de última geração: o tomógrafo de dupla energia force e o equipamento de ressonância magnética 3 Tesla Vida, ambos mais potentes e rápidos.

Tablet do Hospital Vila Nova Star usado para o paciente controlar a iluminação, ligar a TV e chamar a enfermeira, entre outras funções Foto: JF Diorio/Estadão
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Em expansão, o Albert Einstein inaugurou no fim do ano passado uma clínica de atendimento ambulatorial no Alto de Pinheiros e deve abrir um centro similar ainda neste mês no Morumbi. O grupo vem ainda reformando os quartos para torná-los mais amplos e fez uma modernização em sua cozinha. “Nenhum hotel tem. Conseguimos oferecer três opções de cardápio todos os dias seguindo as limitações de cada dieta. O paciente tem a possibilidade de escolher o tipo de refeição e o horário em que ela será servida. Essas modernizações têm visado muito mais à eficiência do cuidado e à melhoria da experiência do paciente”, diz Sidney Klajner, presidente do centro médico.

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz também investiu no ano passado na compra de equipamentos mais modernos, como um aparelho de ressonância 3 Tesla. Na Beneficência Portuguesa, a unidade voltada para o público premium, a BP Mirante, comprou em 2018 a última geração do robô Da Vinci para cirurgias minimamente invasivas e criou um núcleo de bem-estar e práticas integrativas.

Aparelho ARTIS Pheno do Hospital Samaritano, em São Paulo Foto: Werther Santana/Estadão

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Mercado. Para Ana Maria Malik, coordenadora do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGVSaúde), o mercado premium de hospitais consegue crescer mesmo em épocas de crise porque esse é o nicho menos afetado pela conjuntura. “São pessoas menos propícias a perder o emprego ou que podem pagar seu próprio plano de saúde. Além disso, temos de lembrar que São Paulo atrai pacientes de outros Estados e até de outros países.”

Fonte: Fabiana Cambricoli, O Estado de S. Paulo. Publicado em 19.05.2019