O que acontece com o corpo quando você faz jejum de 20 horas por 30 dias seguidos

A cada ano, milhares de muçulmanos jejuam do nascer ao por do sol, durante 30 dias, como parte da celebração do Ramadã, mês sagrado que marca a primeira revelação divina de Maomé.

Nos anos recentes, o Ramadã tem ocorrido durante os meses de verão no hemisfério Norte, quando os dias são mais longos. Isso significa que, em países mais ao norte, muçulmanos chegarão a jejuar por até 20 horas por dia.

Será que isso é bom para a saúde? É uma estratégia que pode ser usada mesmo por quem não tem qualquer ligação com o Ramadã, mas quer perder peso? A BBC explica o que acontece com o seu corpo quando você jejua durante um mês inteiro:

 

A parte mais difícil: os três primeiros dias

Tecnicamente, o nosso corpo não entra em “estado de jejum” até que se passem oito horas desde a nossa refeição mais recente. É o tempo que o corpo precisa para absorver todos os nutrientes da comida.

Pouco depois desse período, nossos corpos começam a recorrer à glicose armazenada no fígado e nos músculos para produzir energia.

Mais adiante no jejum, assim que acaba a glicose armazenada, a gordura se torna a fonte seguinte de energia para o corpo.

O fato de o corpo começar a queimar gordura ajuda na perda de peso, redução de níveis de colesterol e, por consequência, no risco menor de diabetes.

No entanto, a redução dos níveis de açúcar no sangue causa fraqueza e letargia.

A pessoa talvez sinta dores de cabeça, tontura, náusea e mau hálito.

É nessa fase que a fome fica mais intensa.

 

Atenção para a desidratação – dias 3 a 7

À medida que o corpo se acostuma ao jejum, as células de gorduras são quebradas e convertidas em açúcar no sangue.

O perigo, aqui, é que a redução na ingestão de líquidos leve à desidratação, então é preciso beber bastante água durante as quebras de jejum.

E as refeições devem conter níveis apropriados de alimentos energéticos, como carboidratos e gordura.

É importante fazer uma dieta equilibrada e rica em nutrientes, com alguma proteína, sais minerais e água.

 

O corpo vai se acostumando – Dias 8 a 15

Nessa terceira etapa, as pessoas começam a sentir melhorias no humor, uma vez que o corpo se adequa ao jejum.

E há outras vantagens, segundo o médico Razeen Mahroof, consultor em anestesia e cuidados intensivos no Hospital Addenbrooke, em Cambridge.

“Na vida normal, muitas vezes ingerimos calorias em excesso, o que pode impedir o corpo de realizar adequadamente outras tarefas, como se autoconsertar. Isso é corrigido durante o jejum, (período em que) o corpo consegue direcionar seus esforços a outras funções. Portanto, o jejum pode beneficiar o corpo ao facilitar a cura e a prevenção de infecções.”

 

Detox – Dias 16 a 30

Durante a metade final do Ramadã, o corpo já estará totalmente adaptado ao processo.

O cólon, fígado, rim e a pele terão, a essa altura, passado por um período de desintoxicação.

“Na saúde, a função dos órgãos deve a esse ponto estar retornando a sua capacidade máxima. A memória e a concentração da pessoa pode melhorar, bem como seu nível de energia”, diz Mahroof.

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“O corpo provavelmente não recorrerá à proteína para obter energia. Isso acontece quando ele entra em modo ‘inanição’ e usa músculos para gerar energia, em casos de jejum prolongado e contínuo, durante muitos dias e semanas. Como o Ramadã só ocorre do nascer ao por do sol, há oportunidades o suficiente para nos reabastecermos com alimentos e fluidos provedores de energia. Isso preserva os músculos, mas também ajuda na perda de peso.”

 

Isso significa que o jejum faz bem à saúde?

Mahroof diz que sim, mas com uma condição: “Jejuar é bom para a saúde porque nos ajuda a focar em que e quando comemos. No entanto, embora um período de jejum por um mês seja bom, não é recomendável jejuar continuamente.”

“O jejum contínuo (ou seja, sem interrupções e que dura diversos dias ou semanas) não é um bom meio para a perda de peso no longo prazo, porque seu corpo deixa de converter gordura em energia e se volta para os músculos. Isso não é saudável: significa que seu corpo entra no ‘modo inanição’.”

Para quem não pratica o Ramadã e busca usar jejuns a seu favor, o médico sugere a dieta 5 por 2, em que se jejua em parte de dois dias da semana, intercalados por dias de alimentação saudável nos demais cinco dias. Isso é uma alternativa melhor ao jejum contínuo.

“O jejum do Ramadã, feito corretamente, permite repor as energias do corpo diariamente, o que pode resultar em perda de peso sem que o corpo se volte contra valiosos tecidos musculares.”

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