Jejum intermitente, emagrecimento e coração

Por Marcus Bolivar Malachias, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais

 

Passados os abusos das festas de fim de ano, as férias e o Carnaval, a maioria das pessoas sai em busca de dietas e fórmulas para perder as medidas a mais. Jejum intermitente (JI) não é propriamente uma dieta e sim uma forma de distribuir os horários de alimentação. Em geral, no JI, adota-se a abstinência da alimentação por períodos programados, como por 12 ou mais horas (h), voltando a comer, com ou sem restrições, no restante do período do dia, sendo a relação 16:8 horas a mais utilizada. Há também o jejum total ou quase pleno (<25% da necessidade calórica) por 24 horas, seguido de não restrição no dia seguinte. Nas modalidades de jejum de 24 horas, em geral é adotada a relação 2:5, onde o jejum é feito em 2 dias da semana. Mas há muitas outras variedades de JI.

 

Riscos e benefícios

As evidências são ainda limitadas, sendo a maioria dos estudos realizados em animais. Mas já há alguns ensaios em humanos, com resultados interessantes. Uma pesquisa experimental brasileira ganhou as mídias ao revelar efeitos negativos no organismo de ratos que ficavam 24 horas em jejum e nas 24 horas seguintes tinham dieta livre.

Apesar de perderem mais peso, os ratos submetidos ao JI apresentaram mais distúrbios metabólicos e inflamatórios, maior tendência ao diabetes, aumento do tamanho do estômago e prejuízos no crescimento. Há de se considerar que a pesquisa foi realizada com animais muito jovens, ainda em fase de crescimento. Além disso, a modalidade adotada de JI de 1:1 dia, foi bem mais radical que o usualmente adotado em humanos, que é, no máximo, de 2 dias na semana.

Uma pesquisa americana, contudo, realizada com ratos adultos (de 10 a 18 meses, o que corresponde a 25-45 anos de idade em humanos), revelou que o jejum intermitente levou a redução do peso e aumento da expectativa de vida em 30%. Além disso, experimentos com camundongos submetidos a JI, revelaram até 40% menor declínio da função cognitiva com a idade. A maior utilização de cetona no JI, parece proteger a integridade da substância branca cerebral dos efeitos do envelhecimento.

Há indícios de que o JI promova ainda um aumento de sinapses em neurônios granulares do hipocampo dentado e maior liberação de fator neurotrófico cerebral, auxiliando o aprendizado e a memória.

 

Fonte: Marcus Bolivar Malachias, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, para a Veja. Publicado em 18.03.2019