Idoso volta a enxergar com olho biônico

Cientistas desenvolveram uma prótese que atua como uma espécie de olho biônico e que já foi capaz de recuperar a visão comprometida de um idoso. O escolhido foi o britânico Ray Flynn, de 80 anos, que, durante uma cirurgia de quatro horas, recebeu o dispositivo. Ele funciona a partir de um implante em sua retina, que decodifica as imagens captadas por uma minicâmera de vídeo.

Com essa tecnologia, médicos conseguiram reverter, talvez pela primeira vez, um caso avançado de degeneração macular relacionada à idade (DMRI), uma doença incurável, mas bastante comum, que afeta cerca de 500 mil pessoas apenas no Reino Unido. No Brasil, o quadro é ainda mais acentuado: segundo dados da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, são quase três milhões com o problema no país. Trata-se de uma das principais causas de perda de visão, que compromete a independência do indivíduo em suas tarefas diárias.

NÃO ERA POSSÍVEL DISTINGUIR PESSOAS

Antes do procedimento, Flynn enxergava uma enorme mancha preta na parte central da visão, restando apenas a periférica para se comunicar com o mundo visível. Por causa disso, ele conta que já não conseguia distinguir pessoas. A operação foi realizada no Hospital Manchester Royal Eye, em junho. Desde então, o britânico vinha se recuperando e reaprendendo enxergar de uma nova maneira. Em entrevista, nesta terça-feira, ao jornal britânico “Telegraph”, ele garantiu que já consegue distinguir as feições diante de si.

— Consigo enxergar o rosto do meu irmão. E assistir ao jogo do Manchester United na televisão é mais fácil agora — comemorou o engenheiro aposentado. — Recuperei a visão central, coisa que não sabia o que era há oito anos. Nossos olhos são a coisa mais preciosa que temos.

O idoso acrescenta que, apesar da melhora, ainda precisa se readequar ao novo mecanismo.

— Meu cérebro ainda está se acostumando com o que está acontecendo, mas me disseram que vou melhorar cada vez mais com o treino — comentou.

Uma minicâmera de vídeo, que fica no meio das lentes dos óculos biônicos, capta a cena na frente do indivíduo. Essa imagem é encaminhada, através de um fio, a um equipamento decodificador, que fica em sua cintura. Ali, ela é convertida em sinais elétricos, que voltam ao dispositivo e são transmitidos, sem fio, a um implante acoplado na retina. Esses sinais são recebidos e encaminhados ao cérebro, que precisa reaprender a interpretar os padrões de cores e luz, num processo de treinamento.

CAUSA COMUM DE PERDA DE VISÃO

Existem duas formas de DMRI: úmida e seca. Essa segunda é responsável por 90% dos casos, e foi a que afetou o britânico. Nela, há o acúmulo de proteína e gordura na retina, levando o indivíduo a perder a visão central, mas manter a periférica. As causas desse processo ainda são desconhecidas, embora a idade e causas familiares estejam entre os fatores de risco.

— No mundo ocidental, a DMRI seca é principal causa de perda de visão. Infelizmente, com o envelhecimento da população, ela se tornará ainda mais frequente — destacou o oftalmologista Paulo Stanga, professor da Universidade de Manchester, responsável pela operação em Flynn.

Desenvolvido pela empresa americana Second Sight, o olho biônico já foi usado para restaurar a visão de indivíduos que sofriam de uma doença rara, conhecida como retinite pigmentosa. Mas ainda não havia sido testado em casos de degeneração macular. Paulo Stanga comemorou os resultados bem-sucedidos.

— O progresso de Flynn é realmente notável, ele está enxergando o contorno de pessoas e objetos de maneira muito eficaz — afirmou Stanga. — Acredito que pode ser uma nova era para pacientes com perda de visão.

Fonte: Portal O Globo