HIPOGLICEMIA

Tontura, confusão mental, fadiga e dificuldade em realizar atividades cotidianas são alguns dos sintomas da hipoglicemia, distúrbio comumente associado ao diabetes, mas que pode acometer a todos, indistintamente.

A queda brusca de açúcar no sangue compromete o bom funcionamento do organismo e pode ser ocasionada desde a alimentação em horários incorretos até a um jejum prolongado e a prática de exercícios físicos em excesso.

Metabolismo em alerta
Segundo a nutricionista esportiva e estética Lara Saraiva Leão, todas as refeições são importantes, porém principalmente a primeira do dia. “Quando ficamos em jejum ao acordar, podemos apresentar hipoglicemia, o que nos leva a sentir tonturas e até desmaios. Além disso, quando não nos alimentamos ao despertar, passamos a utilizar os músculos como fonte de energia, o que causa redução do metabolismo”.

Sobre o papel do desjejum, o educador físico Raimundo Filho Nonato Mesquita da Costa explica que, apesar das horas de inatividade durante o sono, o corpo permanece consumindo energia. “Passamos cerca de 6 a 12 horas sem nos alimentar e, por mais que o organismo esteja em total repouso, existe gasto de energia, pois todos os órgãos permanecem funcionando. Um café da manhã completo de nutrientes fornece energia para enfrentar as primeiras atividades do dia com vitalidade e disposição”.

Além da hipoglicemia causada pelo jejum prolongado, outra condição comum é a causada pelo consumo excessivo de carboidratos (massas, pães e doces) e que resulta na chamada ‘hipoglicemia de rebote’. Acontece quando a produção de insulina é tão grande que faz com que a glicose entre na célula de forma muito rápida, causando hipoglicemia, pontua Lara Saraiva Leão.

Sintomas mascarados

O professor de Endocrinologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) Manoel Martins explica que os sintomas do distúrbio também são confundidos com uma crise de ansiedade e, com isso, gerar diagnósticos equivocados. “O mais comum é que a hipoglicemia produza uma descarga de catecolaminas (incluindo a adrenalina), resposta fisiológica que estimula a alta da glicose aos níveis normais. Porém, conjuntamente, faz com que o paciente sinta ansiedade e nervosismo”. Não é raro que o indivíduo com crise hipoglicêmica seja diagnosticado como portador de síndrome do pânico, assim como o contrário também pode ocorrer.

A hipoglicemia não é uma doença, mas indica a existência de um problema de saúde maior. A queda abrupta de açúcar no sangue sinaliza deficiências hormonais, tumores e outros problemas que não estão sendo diagnosticados, descreve o Doutor em Endocrinologia Clínica na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Manoel Martins.

 

Mais da metade não segue o tratamento.

.A persistência do mau hábito alimentar e do sedentarismo dificulta o diagnóstico e tratamento do diabetes.

A ingestão de doces e carboidratos está fora de cogitação; à exceção de algum doce diet – sempre com moderação para não descontrolar o diabetes

A população brasileira sofre de um silêncio que parece doce, mas com o tempo amarga e grita. Porque quando as alterações visuais, feridas e infecções fúngicas, entre outros sintomas de diabetes, evoluem para cegueira ou amputação de membros o silêncio revela o esquecimento ou menor força de vontade de enfrentar esse mal.

De um lado, há os que receberam diagnóstico e foram orientados ao tratamento, mas não o seguiram corretamente; de outro, os desavisados, que não tiveram a oportunidade de qualquer diagnóstico.

A maior pesquisa sobre diabetes tipo 2 realizada no mundo (26 países, incluindo Brasil) revela uma realidade trágica: mais da metade dos pacientes diabéticos não segue as recomendações médicas.

Mudança de hábito

“Falta disciplina”, há “pouca força de vontade”, muitos “não estão suficientemente preocupados” ou “assustados” sobre as complicações a longo prazo são algumas das declarações, um desabafo, dos médicos (cerca de 6.700 profissionais) ouvidos em amplo levantamento.

A pesquisa Introdia, desenvolvida pela Federação Internacional de Diabetes (da sigla em inglês IDF), ainda inclui cerca de 10 pessoas com diabetes tipo 2. As respostas dos pacientes ao estudo serão divulgadas em breve. Mas, pela parte do estudo que envolve os médicos, já se tem a informação de que 88% da classe concorda que o diálogo sobre o diagnóstico tem impacto sobre a aceitação dos pacientes quanto a doença e adesão aos seus medicamentos.

Com cerca de 12 milhões de pessoas diabéticas, o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial. Mas vai além: três em cada quatro diabéticos tipo 2 estão com a doença fora do controle, enquanto a maioria apresenta obesidade e/ou sobrepeso.

A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) informa que praticamente a metade dos portadores do tipo 2 desconhece essa condição por se tratar de uma doença pouco sintomática, silenciosa.

A previsão é a de que seis em cada dez brasileiros têm risco de desenvolver diabetes, o que reforça a necessidade de esclarecimento por parte da população desde o diagnóstico.

Para entender

Diabetes é um distúrbio metabólico complexo que envolve a alteração do metabolismo, principalmente da glicose, mas também da proteína e da gordura. A doença se caracteriza pela falta de insulina ou por defeitos na sua ação (portanto, falta absoluta ou relativa de insulina).

Existem dois tipos mais conhecidos de diabetes: 1 e 2. O diabetes Mellitus Tipo 1 é uma doença autoimune, uma vez que ocorre a destruição das células beta, responsáveis pela produção de insulina. Já a Diabetes Mellitus Tipo 2 (corresponde a cerca de 90% dos casos) é caracterizado pela resistência à insulina e perda parcial de células beta. Também é resultado de maus hábitos alimentares, assim como do sedentarismo.

Os tratamentos existentes para o diabetes tipo 2 são a dieta e exercício, antidiabéticos orais (metformina, iDPP-4, TZD, iSGLT2), injetáveis, insulina basal e insulina rápida.

Fatores para a doença

Alguns fatores contribuem para o desenvolvimento da doença, como: a obesidade (inclusive a obesidade infantil), hereditariedade, falta de atividade física regular, hipertensão arterial, níveis elevados de colesterol e triglicérides, medicamentos (como os à base de cortisona), idade acima dos 40 anos (para o diabetes tipo 2) e estresse emocional. “A cada 10 segundos, três pessoas desenvolvem diabetes”, complementa o diretor médico do laboratório Eli Lilly, Dr. Bernardo Soares, que desenvolve tratamentos para o controle do diabetes há vários anos.

Boa parte dessas pessoas que desenvolve diabetes está nos Estados Unidos, numa evidente prova de que os hábitos alimentares interferem diretamente na progressão da doença.

Desafios

A pesquisa Introdia ainda apontou alguns dos principais desafios a serem vencidos: cerca de 28% dizem que os pacientes não conseguem manter os hábitos de vida saudáveis (dieta e a prática regular de exercícios).

Outra parcela dos entrevistados, 23%, afirma que as pessoas não costumam entender a gravidade do diagnóstico, enquanto 21% dos profissionais de saúde reclamam que não possuem tempo suficiente para prestar todos os esclarecimentos necessários durante as consultas.

Novo tratamento

Durante coletiva de imprensa realizada dia 17, em São Paulo, foi apresentado um produto que inibe uma proteína de reabsorver, pelos rins, o açúcar eliminado no sangue. Na ocasião, o presidente e professor titular da Fundação Oswaldo Ramos (SR), o nefrologista Artur Beltrame, explicou que além dos hábitos alimentares deve haver mudanças na forma é tratada a higiene pessoal. No caso dos inibidores de açúcar pelos rins, significa que a urina irá excretar um volume maior de açúcar eliminado.

Para Douglas Barbieri, gerente médico de Grupo da Eli Lilly, as informações contidas na pesquisa serão úteis inclusive para a definição de um programa de políticas públicas, tanto no âmbito público como no privado. “Irá melhorar o entendimento e a atenção à pessoa com diabetes no mundo”, pontua.

O mesmo estudo aponta que 92% dos médicos gostariam de ter acesso a ferramentas para ajudar seus pacientes a desenvolver e manter a mudança de comportamento frente ao diabetes. A pesquisa Introdia foi iniciada em 2013 e deverá obter, ainda neste ano, as respostas das mais de dez mil pessoas (tipo 2) ouvidas.

Para evitar a reabsorção de açúcar

Já se encontra disponível no mercado o novo medicamento para pacientes com diabetes tipo 2. Trata-se do Jardiance (empaglifozina), inibidor do SGLT 2, uma proteína transportadora que atua na reabsorção da glicose filtrada pelos rins. Permite que, diariamente, haja a eliminação de cerca de 78 gramas de glicose, em média, o que equivale a seis colheres de sopa de açucar, ou 312 calorias.

Experimentos revelaram que a empaglifozina pode contribuir para a perda de peso corporal e redução da pressão arterial em pacientes com diabetes 2, que são fatores fundamentais para redução de complicações futuras, como as doenças cardiovasculares. O medicamento foi desenvolvido como resultado da parceria entre os laboratórios Boehringer Ingelheim e Eli Lilly.

Benefícios

Os estudos clínicos com Jarciance foram realizados em mais de 15 mil pacientes diabéticos tipo 2 em diversos países, incluindo o Brasil, mostrando que o medicamento (de 10mg e 25mg, uma vez ao dia) levou à redução de hemoglobina glicada, que é o principal parâmetro de avaliação de diabetes.

Importante: a droga não deve ser usada para tratar diabetes tipo 1, em pessoas com insuficiência renal grave ou com maiores quantidades de cetonas no sangue ou na urina e em tratamento de diálise.

Essas normas foram determinadas pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora em saúde dos EUA que aprovou, em 2014, o medicamento para uso comercial em território norte-americano. O órgão encomendou vários estudos pós-comercialização da droga, incluindo uma avaliação das condições sobre o sistema cardiovascular. Os efeitos colaterais mais comuns são infecção do trato urinário e infecção genital feminina. Também pode causar desidratação, levando a uma queda significativa na pressão arterial.

Para o endocrinologista João Paulo Iazigi, do Hospital Vera Cruz, de São Paulo, a empaglifozina tem revelado, em geral, melhores resultados que medicamentos previstos para a mesma finalidade.

Fonte: DIARIO DO NORDESTE