Fechar a boca pode ajudar quem busca a longevidade, segundo pesquisa

A restrição calórica estende bastante não apenas a vida de animais de laboratório, mas a qualidade de vida deles – quanto tempo eles vivem livres de doenças. Acreditando que isso tenha o mesmo efeito nas pessoas, algumas pessoas adotaram uma dieta restritiva. As evidências mais recentes indicam que, embora a restrição calórica seja benéfica para os humanos, quando se trata de tornar a vida mais longa, a medida talvez não seja a única responsável por adiar a morte.

A boa notícia é que nós talvez sejamos capazes de adiar o envelhecimento sem reduzir nossa ingestão de alimentos.

– Há uma possibilidade de que, se você equilibrar a dieta corretamente, pode ter uma vida mais longa, sem sacrifícios – comenta Matthew Piper, pesquisador de envelhecimento da University College London.

O interesse na restrição calórica começou em 1935, quando os cientistas fizeram a descoberta surpreendente de que ratos, em uma dieta com calorias reduzidas, viviam mais, desde que ingerissem suplementos com vitaminas e minerais. Ratos, por exemplo, viveram até 50% mais quando a ingestão de calorias foi reduzida em um percentual de 30% a 50%.

A pergunta que não quer calar é se a restrição calórica tem efeito semelhante nas pessoas. Humanos vivem mais e são claramente mais difíceis de serem estudados do que ratos, mas recentemente duas evidências indicaram que a restrição tem efeito similar em humanos.

A primeira vem de um estudo de 20 anos com o macaco rhesus, espécie obviamente mais próxima de humanos do que ratos. Quando os macacos tinham cerca de 10 anos de idade, equivalente à fase jovem adulta nos humanos, metade do grupo estava com uma dieta em que recebeu 30% menos calorias do que os outros. Os resultados divulgados ano passado parecem promissores. Cerca de 80% dos macacos com restrição de calorias ainda estavam vivos quando o estudo foi publicado, superando a taxa de sobrevivência de 50% do grupo de controle.

CRONies

A segunda evidência vem de estudos com pessoas que fazem dieta de restrição calórica. Um grupo, formado nos anos 90, evoluiu para a Sociedade Internacional de Restrição Calórica, que agora tem mais de 3 mil membros que se denominam CRONies, que significa calorie restriction with optimal nutrition (restrição calórica com nutrição ótima).

Os CRONies tipicamente reduzem calorias entre 10% e 30% da ingestão recomendada. Para garantir que tenham todos os nutrientes de que precisam, a dieta é baseada principalmente em vegetais, e a restrição é planejada com a ajuda de um computador.

– Acham que restrição de calorias significa ingerir pequenas porções, mas este pessoal come enormes quantidades de alimentos com baixas calorias e densos em nutrientes – obserca Luigi Fontana, professor de medicina da Washington University em St Louis, que estudou CRONies nos últimos oito anos.

As pessoas mais velhas nos estudos de Fontana se encontram na faixa dos 70 anos. Mas há evidências sugerindo que o hábito melhora a qualidade de vida. Em 2007, Fontana mostrou que CRONies têm perfis metabólicos ótimos, e baixos níveis de colesterol e pressão sanguínea:

– Eles têm corações 15 anos mais jovens do que americanos típicos da idade deles.

Fontana, contudo, encontrou notável diferença na forma como as pessoas e os animais respondem à restrição calórica. Isso envolve um hormônio produzido pelo fígado chamado fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1). O IGF-1 emergiu como importante promotor de envelhecimento. Os níveis de IGF-1 são mais baixos do que os normais em ratos em uma dieta restritiva, o que é, acredita-se, pelo menos parcialmente responsável pelo tempo de vida mais longo deles. Quando se trata de pessoas, contudo, os CRONies têm os mesmos níveis de IGF-1 que o resto de nós.

Proteína

A explicação pode estar na nova teoria sobre como a dieta afeta o envelhecimento. Ela diz que não é apenas a redução das calorias a responsável pela extensão da vida.

Segundo Fontana, as pessoas nesse grupo de estudo estavam comendo altos níveis de proteína, 1,7 grama por quilo de peso por dia. O valor é maior do que a ingestão recomendada pelo governo americano, de 0,8 g/kg/dia, e maior do que aquele em uma dieta americana típica, 1,2 g/kg/dia.

Fontana pediu a seis CRONies que reduzissem a ingestão de proteínas para 0,95 g/kg/dia enquanto mantinham a ingestão usual de calorias. Depois de apenas três semanas com a dieta pobre em proteínas, os CRONies mostraram redução de 25% nos níveis de IGF-1.

– Mesmo se os CRONies restringirem as calorias de forma severa, se fizerem dieta rica em proteínas, eles provavelmente vão anular alguns dos efeitos benéficos mais importantes – observou Fontana.

Fontana vai mais além, dizendo que dietas ricas em proteínas podem oferecer risco de envelhecimento acelerado e câncer. É boa notícia, contudo, para pessoas que já fazem uso de dietas com poucas proteínas, como os vegetarianos, que evitam comer carne, ovos e laticínios. Em 2007, Fontana mostrou que eles têm níveis mais baixos de IGF-1 do que os que comem carne.

Se a restrição calórica é difícil para a maioria das pessoas, a restrição de calorias e de proteínas é duas vezes mais difícil.

– A restrição de proteínas é muito menos difícil de manter do que a restrição calórica e pode ser mais eficiente em reduzir IGF-1 em humanos – acrescentou Fontana recentemente.

Seria prematuro considerar o caso uma prova para a teoria de que a proteína estende a vida. Até Fontana admite que deva haver outros nutrientes que desempenham esse papel, assim como ácidos graxos ou colesterol. Outros especularam que o segredo é a proporção de calorias em relação às proteínas.

Por enquanto, a melhor aposta para evitar o envelhecimento e as doenças talvez ainda seja o velho conselho para comer mais vegetais.

Tradução: Victor Barros

Fonte: JORNAL DO BRASIL – RJ