Farmacêuticas arriscam fortunas em busca de cura do Alzheimer

Até mesmo os meramente esquecidos, cujas vidas ainda não foram descarrilhadas pela doença, se tornaram candidatos para testes clínicos. Analisar o cérebro em busca de indicadores iniciais de Alzheimer — e aumentar gradativamente a dosagem de medicamentos — poderia ajudar a transformar fracassos em avanços, disse Andrea Pfeifer, CEO da AC Immune. A parceira da companhia suíça em seu medicamento experimental, a gigante do setor farmacêutico Roche Holding, informou nesta semana que dará início a um segundo teste avançado, sem se deixar abalar pelo fracasso de um teste intermediário.

O otimismo de Pfeifer é um exemplo do nível estranhamente alto de tolerância ao risco do setor em relação ao Alzheimer, considerando que mais de 100 medicamentos experimentais já fracassaram — com dois reveses recentes da Merck & Co. e da Eli Lilly & Co. Assim como a Roche e sua parceira, a Biogen está avançando aos poucos rumo à mesma meta de concorrentes. Merck e Lilly optaram por continuar testando seus remédios em pacientes que mostram apenas sinais da doença degenerativa. Cada teste avançado pode custar centenas de milhões de dólares, de acordo com a Lilly.

“Sempre há uma dúvida: será que você está desperdiçando ainda mais dinheiro?”, disse Birgit Kulhoff, administradora de recursos da Rahn & Bodmer Co. em Zurique. “Caso você seja bem-sucedido, o mercado seria extremamente grande.”

Remédios que impeçam o avanço da doença de Alzheimer poderiam ter um valor de mercado de US$ 30 bilhões só nos EUA, estimam analistas da Sanford C. Bernstein & Co.

O câncer é a única outra doença que poderia levar as empresas a analisar profundamente estudos malsucedidos em busca de uma tendência positiva a seguir, disse Kulhoff, e os testes de Alzheimer provavelmente sejam mais caros porque os pesquisadores acompanham os pacientes durante mais tempo e os monitoram de perto.

As fabricantes de remédios não revelam quanto investiram em testes clínicos. Um teste de etapa final sobre o mal de Alzheimer pode custar mais de US$ 200 milhões, de acordo com Eric Schmidt, analista da Cowen & Co. Um estudo desse tipo sobre um câncer como o melanoma tenderia a ser muito menor e custar entre uns US$ 50 milhões e US$ 100 milhões, disse ele.

Beta-amilóides — A Roche está testando dois remédios cujo alvo são proteínas chamadas beta-amilóides, que se agrupam no cérebro e, acredita-se, têm um papel no desencadeamento da doença. O problema é que esse também era o alvo do remédio da Lilly que não passou em um teste com pacientes no ano passado. O teste malsucedido da Merck do mês passado também tinha como alvo as beta-amilóides, embora se acreditasse que o tipo de remédio evitaria a formação dessa substância. Esses fracassos põem em dúvida a abordagem como um todo.

Para Pfeifer, CEO da AC Immune, todos os fracassos são placas que indicam o caminho para um possível sucesso, porque os cientistas se tornam melhores em analisar o cérebro, identificar o potencial de Alzheimer antes que os pacientes fiquem muito doentes e descobrir quais anticorpos atacam as beta-amilóides em seus estágios mais tóxicos. Ela comparou o campo do Alzheimer à situação do estudo do câncer quando ela era uma jovem pesquisadora de oncologia no Instituto Nacional de Saúde dos EUA há cerca de 30 anos.

“Nós agora finalmente estamos chegando naquele nível molecular em que eu acho que os conhecimentos científicos sobre Alzheimer precisam ir”, disse Pfeifer. “Simplesmente não tínhamos suficiente exatidão científica. É aí onde tenho grandes esperanças.” | Naomi Kresge e Doni Bloomfield/Bloomberg.

 

– Fonte: Portal Fator Brasil