Exército contra a zika

Para visitar casas, serão usados 220 mil homens das Forças Armadas a partir de 13 de fevereiro. O governo também vai distribuir repelentes para grávidas. Após reunião com a presidente Dilma, o ministro disse que o Brasil vive hoje uma das maiores crises de saúde pública de sua história. As declarações de Castro irritaram o Planalto. Depois de afirmar que o Brasil está “perdendo feio” a batalha contra o mosquito Aedes aegypti e que o país enfrenta, com o avanço da zika, “uma das maiores crises de saúde pública” da história, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse ontem que as Forças Armadas vão pôr 220 mil homens para visitar todos os domicílios do país e entregar panfletos, e que o governo vai distribuir repelentes gratuitamente para 400 mil grávidas do Bolsa Família.

As iniciativas foram anunciadas no Palácio do Planalto, após reunião com a presidente Dilma Rousseff e com outros ministros que ficarão responsáveis por essas estratégias. Horas antes do encontro com Dilma, a declaração de Castro de que o governo está “perdendo feio” a batalha irritou a presidente. Indicado pelo PMDB para o ministério, com o objetivo de recompor a base aliada, ele já havia causado mal- estar no Planalto com outras declarações sobre o tema, a ponto de sua presença ter se tornado um incômodo.

— Estamos planejando colocar 220 mil homens das Forças Armadas, a partir de um dia determinado, que deverá ser 13 de fevereiro, para visitar casa por casa do Brasil distribuindo panfletos e orientando as pessoas, porque temos a consciência exata de que só seremos vitoriosos nessa luta se contarmos com a contribuição das pessoas — afirmou Castro.

Amanhã, o ministro se encontrará com um fabricante de repelentes para calcular e estipular a quantidade necessária para atender às 400 mil grávidas beneficiárias do Bolsa Família e estudar a viabilidade da distribuição. Castro também anunciou que Dilma irá visitar, nesta sextafeira, a Sala Nacional de Coordenação e Controle do Plano de Enfrentamento e Combate à Microcefalia, para participar de uma videoconferência com todos os governadores, que estarão nas salas estaduais. O objetivo é discutir estratégias contra o mosquito.

DESGASTADO, MINISTRO NEGA “PUXÃO DE ORELHA”

Após o encontro com a presidente, Castro classificou o Aedes como o “inimigo número um do país” e chamou a epidemia de “uma das maiores crises de saúde pública já vivida”.

— Forças Armadas, polícias militares, bombeiros, agentes comunitários, prefeitos, secretários estaduais, todos estão mobilizados contra o inimigo número um do Brasil hoje, que é o mosquito Aedes aegypti, o famoso mosquito da dengue — disse o ministro, negando que tenha levado qualquer “puxão de orelha” de Dilma por causa da frase sobre a perda da batalha contra o mosquito.

A declaração que irritou a presidente ocorreu num encontro à tarde com o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg ( PSB).

— Nós estamos há três décadas com o mosquito aqui no Brasil e estamos perdendo feio a batalha para o mosquito. Ano passado foi o que teve o maior número de casos de dengue no Brasil em toda a história — disse Castro.

Já no Planalto, ele pôs a culpa da proliferação do mosquito na conta de governos anteriores. Apesar de afirmar que seu objetivo não era “culpar ninguém”, lembrou que o Brasil já convive com o mosquito da dengue e da zika há 30 anos.

— Temos 30 anos de convivência com o mosquito do Aedes aegypti. Sem querer culpar ninguém, houve uma certa contemporização com o mosquito. Mas agora a situação é completamente diferente, porque, além da dengue, o mosquito está transmitindo a chicungunha e a zika. Não estou condenando ninguém, o fato é que o mosquito está convivendo conosco este tempo todo. E agora não podemos perder a batalha — disse.

Na verdade, o país já convive com surtos do Aedes aegypti desde o início do século XX.

O ministro pediu a ajuda da população para o combate às doenças e afirmou que Dilma está preocupada com a crise:

— A presidenta está tão ou mais preocupada do que eu. E completamente envolvida. Se a população não chamar para si uma das crises maiores de saúde pública já vivida em qualquer tempo no Brasil, nós não seremos vitoriosos.

Castro também disse que, como não existe vacina contra as doenças, a única forma de combater a epidemia é eliminar o mosquito. Ele citou cidades que foram bem- sucedidas nessa luta e afirmou que pretende estender para todo o país um programa implementado em Goiás pelo governador Marconi Perillo ( PSDB), que monitora em tempo real o trabalho dos agentes de saúde pública.

Em 2015, foram mais de 1,6 milhão de casos prováveis de dengue no país, com registro de 863 mortes, um recorde. Em relação ao ano anterior ( 2014), houve aumento de 180,9% de pessoas doentes e de 82,5% nos casos de morte.

Castro repetiu que o uso de vacinas contra a doença ainda deve demorar:

— A arma fatal que nós podemos ter é a vacina. Nós já estamos com nossos laboratórios nacionais em contato para fazer parcerias com os laboratórios internacionais. Só que nós sabemos que, por mais rápido que ande o desenvolvimento de uma vacina dessa, iremos demorar ainda de três a cinco anos, pelo menos, se tudo der certo. Até lá, o que nos resta é o combate ao mosquito.

Ele disse também que o problema enfrentado é “grandemente” agravado pela presença da zika, que provoca, além de síndrome neurológica autoimune ( Guillain- Barré), microcefalia.

— Uma enfermidade irreversível, incurável, que provoca retardo mental e que deixa a pessoa dependente de cuidados especiais.

Fonte: O Globo