Ciência avança com droga que fortalece sistema imunológico contra tumores

SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É a chamada “imunoterapia”, bola da vez da ciência oncológica de ponta.

O que se chama de câncer, na verdade, é um conjunto de mais de uma centena de doenças. Elas começam com a mutação inicial de um gene, que leva à multiplicação descontrolada das células até formar uma massa tumoral.

O momento é promissor para as pesquisas porque há muita informação científica acumulada, segundo Dirce Carraro, que estuda a identificação de novos genes associados a câncer hereditário no hospital A.C. Camargo.

Levantamento obtido pela Folha, feito pelo especialista em dados científicos da Unifesp, Estêvão Gamba, mostra que de 2012 a 2014 foram publicados 305.858 artigos científicos sobre câncer. São quase 280 estudos novos por dia.

Há décadas, a praxe da medicina é tratar a doença com uma combinação de cirurgia, de fármacos para atacar as células (cancerígenas e saudáveis) e de radiação no tumor. Às vezes, dá certo e o câncer vai embora (se descoberto no início, a chance de cura é de até 90%).

O problema é que a maioria dos tumores avança em silêncio, e o número de diagnósticos não para de crescer: o Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima 596 mil casos novos até 2017 no Brasil.

A imunoterapia, no lugar de atacar o organismo como a quimioterapia e a radioterapia, fortalece o corpo para que ele combata a doença. O objetivo é o mesmo: atingir a massa tumoral.

A área tem sido estudada há mais de uma década, com foco em melanoma, tipo agressivo de câncer de pele (que responde a 1,6% dos cânceres no mundo).

A Bristol-Myers Squibb aprovou, em 2013, noa EUA, o primeiro imunoterápico do mercado. O Yervoy, contra melanoma, consegue “desbloquear” os freios do sistema imunológico que o próprio câncer provoca.

“Não se trata de matar o câncer, mas de ajudar o corpo a matá-lo”, diz Roger Miyake, diretor médico da Bristol no Brasil.

A empresa e a Merck também aprovaram mais dois imunoterápicos nos Estados Unidos, no ano passado. Um deles, o Opdivo, para melanoma e câncer de pulmão, deve chegar ao Brasil neste ano.

O outro, Keytruda, da Merck, foi usado com sucesso no tratamento do melanoma do ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, 91. Conseguiu driblar a doença, já em metástase no cérebro. Hoje, o câncer de Carter está em processo de remissão.

O problema é que a evolução de drogas desse tipo é lenta, bem mais lenta que o aparecimento das doenças em uma população que está envelhecendo e, por isso, tende a ter mais câncer.

O desenvolvimento de um medicamento como o Yervoy pode levar de dez a 15 anos. O custo? Vai de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão, diz Miyake. Ou seja, de cerca de R$ 3,7 bilhões a R$ 5,5 bilhões. A cada 10 mil moléculas testadas, apenas uma vira um remédio no mercado. Todo o resto fica pelo caminho.

Hoje, há uma espécie de corrida atrás de novos tratamentos. “Toda empresa está buscando a imunologia”, diz Eurico Correia, diretor médico da Pfizer Brasil. “Faz muito mais sentido usar o sistema imune do que combater o sistema imune.”

A Novartis também anunciou que está investindo “significativamente” em imuno-oncologia, com foco em melanoma, hematologia, pulmão, mama e rins.

COMBINAÇÕES

A imunoterapia, no entanto, não deve enterrar a quimioterapia. Se hoje os tratamentos combinam químio e rádio, o futuro deve casar imunoterapia com uma das duas. “Combinar terapias é o que funciona melhor”, diz Martin Bonamino, biomédico e pesquisador do Inca.

Também no futuro, acreditam médicos e cientistas, cada câncer será identificado e tratado pela mutação que o causou e não pelo órgão no qual a formação tumoral se localiza. Conhecer qual gene se alterou será muito mais importante do que saber se o problema está nos rins ou no fígado, por exemplo.

A matemática do câncer é complexa. “Excesso de sol causa câncer de pele, mas a sua ausência causa deficiência de vitamina D, ligada ao câncer de mama”, diz Dirce Carraro, do A.C. Camargo.

Para analisar os infográficos e assistir o video acesse o link abaixo:

http://temas.folha.uol.com.br/o-futuro-do-combate-ao-cancer/avancos-da-ciencia/ciencia-avanca-com-droga-que-fortalece-sistema-imunologico-contra-tumores.shtml

 

– Fonte: Portal Folha de S.Paulo