Câncer de mama: por que o “outubro rosa” precisa ser maior

Talvez pouca gente saiba que 30% das mulheres que têm diagnóstico de câncer de mama podem evoluir para a doença metastática, ou seja, presença do câncer em outros órgãos, além de sua origem. Outras 35% já descobrem nesse estágio afinal, moramos no Brasil e as coisas não são rápidas e nem fáceis por aqui. Embora ninguém tenha nada contra milagres, para todas essas mulheres a cura é um assunto que não está na pauta do dia a dia.

Mulheres fortes, corajosas, intensas, que trabalham, criam filhos, cuidam da família, sofrem por tanto e tudo e ainda fazem quimioterapia. E se sentem felizes a cada vez que vão ao médico e recebem a notícia que vão continuar a fazer tratamento.

Elas sofrem. Um sofrimento em todas as dimensões que até hoje está sendo silenciado. Mas que agora precisa ser atendido. A cura não está ao alcance de todas, mas o alívio de seu sofrimento precisa estar.

Muito é investimento em drogas e aparelhos, mas quase nada é investido em humanidade. Compaixão somada ao conhecimento sobre tratamento da dor e de outros sintomas devem dar mais vida aos anos e também mais anos de vida.

Todas as mulheres que têm uma doença incurável têm também uma história bonita pra contar pra quem quiser ouvir. Sobre a vida que já foi e sobre o resto de vida que há de vir. Não se sabe quanto tempo cabe no tempo que resta. Mas temos certeza de que de janeiro a janeiro todas elas merecem ter quem acolha seu sofrimento por não ter todo o tempo que gostariam de ter.

Prevenir doenças é urgente. Diagnosticar precocemente é importante. Mas olhar nos olhos de quem está doente é absolutamente fundamental.

Queremos que neste Outubro Rosa, e em todos os meses do ano da vida de todos que enfrentam o câncer seja tempo de conscientização sobre tratar e prevenir o sofrimento. A dor, o medo, a tristeza são esperadas, mas não é normal sofrer.

 

Fonte: Ana Claudia Arantes, geriatra do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Publicado dia 21.10.2019