Anvisa dará aval temporário a pesquisas com aedes transgênico

A medida, que ocorre em meio a críticas pela demora na avaliação do tema, é a primeira iniciativa da agência para regular o uso desse tipo de tecnologia no país. Até então, a Anvisa alegava ter dúvidas sobre se poderia interferir nessa questão.

O pedido de análise foi feito em 2014 pela empresa britânica Oxitec, que possui uma filial em Campinas (SP) e detém uma linhagem de mosquitos Aedes aegypti geneticamente modificados.

Na época, a empresa havia obtido aprovação inicial pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) para uso da tecnologia em larga escala, e consultou a Anvisa na tentativa de obter aval para a comercialização.

Liberados no ambiente, esses mosquitos têm como função reduzir a população dos mosquitos silvestres —e assim, reduzir também a transmissão de doenças por eles transmitidas, como a dengue.

Dois anos depois, a agência definiu que os mosquitos geneticamente modificados “são objeto de regulação sanitária, no que diz respeito à segurança sanitária de seu uso e em relação à sua eficácia”. Mas ainda não se posicionou sobre uma eventual comercialização dessa tecnologia.

Segundo a Anvisa, até que seja concluída a elaboração de uma norma sobre o tema, a empresa Oxitec ganhará um “registro especial temporário”, que permite que ela realize mais pesquisas com a tecnologia para comprovar sua eficácia.

A medida deve abrir espaço para novas parcerias com prefeituras que desejam utilizar a ferramenta no combate ao mosquito Aedes aegypti, que transmite os vírus da dengue, zika e chikungunya. Essa utilização, porém, ainda deve ocorrer em caráter de testes.

Em nota, a Anvisa diz que, além da análise da CTNBio, “caberá aos órgãos específicos dos Ministérios o registro e a fiscalização comercial dos organismos geneticamente modificados”.

“No caso dos mosquitos transgênicos para uso em controle de vetores, a Anvisa analisará e concederá o registro desses produtos após avaliação de sua segurança e eficácia”, informa, em um sinal de que a liberação para uso comercial deve ocorrer apenas após a ampliação dos estudos.

MENOS MOSQUITOS

O uso de uma linhagem transgênica do mosquito Aedes aegypti ganhou repercussão após resultados positivos em testes-piloto no país.

Na prática, funciona assim: como só as fêmeas do Aedes aegypti picam —e assim podem contrair e transmitir vírus como a dengue, por exemplo— os pesquisadores liberam apenas os machos transgênicos no ambiente.

Soltos, os mosquitos “recém-chegados” encontram as fêmeas silvestres e as fecundam. Fertilizadas, elas ficam indisponíveis para receber outros machos.

Os ovos desse encontro ganham um gene “mortal”, e produzem larvas que morrem antes de ultrapassar a fase da pupa e chegar à vida adulta. Assim ocorre a redução na população de mosquitos.

Os projetos-piloto foram conduzidos em dois municípios da Bahia, Juazeiro e Jacobina, e em Piracicaba, no interior paulista. Em Piracicaba, resultados mostraram redução de 82% nas larvas selvagens em áreas onde o mosquito foi liberado, segundo dados da Oxitec.

Em março, a OMS (Organização Mundial de Saúde) também recomendou que os países ampliem as pesquisas sobre a utilização de mosquitos transgênicos. O objetivo, assim, é testar a eficácia dessa ferramenta no combate ao mosquito Aedes aegypti e ao avanço dos vírus da dengue, zika e chikungunya.

– Fonte: Folha de S.Paulo