A taxação do açúcar poderia combater a obesidade?

Outro debate foi levantado num artigo publicado pela editora editora “British Medical Journal”: taxar o açúcar poderia ajudar a combater a obesidade?

Sirpa Sarlio-Lähteenkorva, consultora no Ministério dos Assuntos Sociais e Saúde na Finlândia, acredita que uma taxa específica para o açúcar poderia reduzir o seu consumo. “Cada vez mais evidências sugerem que as taxas em refrigerantes, açúcar e lanches podem mudar dietas e melhorar a saúde, especialmente em grupos socioeconômicos mais baixos”, escreveu.

Recentemente, a Associação Médica Britânica recomendou o subsídio de 20% sobre o custo de frutas e vegetais. Especialistas, no entanto, concordam que as taxas funcionam como uma solução parcial.

Na Finlândia, o Grupo de Trabalho da Taxação do Açúcar concluiu recentemente que o atual sistema de imposto especial de consumo é viável. “A combinação de impostos especiais de consumo para as principais fontes de açúcar aliado à taxação com base no conteúdo de açúcar seria o ideal para promover a saúde e a reformulação de produtos”, afirmou o grupo.
Entretanto, a professora Sarlio-Lähteenkorva destaca que as taxações com estes propósito enfrentam muitos desafios, como o recentemente visto num curto experimento na Dinamarca. O país impôs taxas sobre a gordura saturada, o que reduziu o consumo de gordura entre 10% a 15%, mas trouxe preocupações sobre o comércio internacional e o lobby da indústria. Com isso, o governo acabou voltando atrás na medida.

Enquanto isto, a indústria de alimentos argumenta que estas taxas são ineficazes, injustas e que prejudicam a indústria.

“Precisamos de políticas fiscais que levem em conta a saúde”, escreve a consultora. “Governos precisam lidar com os efeitos adversos relacionados ao consumo de produtos pouco saudáveis, como o diabetes, doenças cardíacas e hipertensão. A taxação no açúcar, preferivelmente com medidas que tenham como alvo a gordura saturada e o sal, e incentivos para a alimentação saudável, devem ajudar”.

Mas Jack Winkler, professor emérito de política de nutrição na London Metropolitan University, argumenta que tal taxa poderia ser positiva no início, mas são politicamente inaceitável e precisaria ser muito altas para ter efeito.

Ele destaca que um referendo nos Estados Unidos levou a taxação de refrigerantes a apenas uma cidade (Berkeley). Segundo ele, estas taxas são economicamente ineficazes. Dois estudos britânicos grandes mostram que uma taxa de 10% poderia reduzir o consumo médio diário destes produtos em menos de um gole (75 ml), enquanto que 20% de taxa poderia ter uma redução de apenas 4 kcal. “Efeitos desse tamanho não vão reverter a obesidade global”, argumenta.

Ele lembrou que, durante as eleições, porta-vozes do governo britânico repetidamente afirmaram que não haveria este tipo de taxação e de pronto rejeitaram a proposta da Associação Médica Britânica.

“A política de nutrição precisa de instrumentos de preço, mas uma seleção mais positiva. Taxação de açúcar é improvável de ser adotada e não faria muita diferença de qualquer forma”, conclui.

Fonte: Portal O Globo