A hora de cortar o cordão umbilical financeiro dos filhos

 Num cenário de desemprego alto e de estagnação econômica em muitos setores, é difícil encontrar uma família que não tenha enfrentado algum perrengue. Nessas horas, quando os laços são fortes, todos se juntam num esforço solidário. Afinal, nenhum pai ou mãe gosta de ver os filhos no aperto. No entanto, quando é que a ajuda legítima acaba se transformando numa armadilha que pode inclusive comprometer a segurança financeira dos pais?

 

O Bankrate.com, um site de educação financeira dos Estados Unidos, divulgou em março uma pesquisa na qual metade dos casais afirmava que estava sacrificando sua poupança para ajudar os filhos. Quem pode oferecer uma educação mais sólida sabe que a independência dos rebentos demora: pode ir além do fim do curso universitário, se o estudante fizer algum tipo de pós-gradução. Lá, um em cada cinco norte-americanos declara não fazer uma reserva para a aposentadoria – aqui, são oito em cada dez, e o orçamento apertado é sempre a principal justificativa. Vale lembrar: comissários de bordo orientam os passageiros a, em caso de emergência, colocar a máscara de oxigênio primeiro em si mesmos, para só depois socorrer os demais…

 

A questão é que não se trata de ficar indiferente aos problemas dos filhos, e sim de estabelecer limites porque, do contrário, essa dependência vai fazer mais mal do que bem. É o que defende a psiquiatra Laura Debney, especializada em relacionamentos, que diz que, embora esta seja uma conversa indigesta, a situação só piora quando a postergamos, criando ressentimentos dos dois lados. Uma pergunta incômoda tem que ser feita: a ajuda vai ser para atender a uma necessidade ou a um desejo?

 “O primeiro passo é ser honesto e transparente: por exemplo, se for o caso de a reserva financeira dos pais estar em risco. Depois é importante ouvir esses jovens adultos e estabelecer pontos de compromisso que façam sentido para ambas as partes, para que haja um roteiro cujo objetivo seja encerrar a dependência. Para obter autoestima, um adulto deve conseguir superar os desafios e obstáculo que surgem. O excesso de ajuda impede que isso aconteça”, explica.

Fonte: Mariza Tavares. Jornalista, mestre em comunicação pela UFRJ e professora da PUC-RIO, Mariza escreve sobre como buscar uma maturidade prazerosa e cheia de vitalidade para o Viva Bem do G1. Publicado em 15.08.2019