6 novas armas contra a dor

Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br)

“Eu rezava a Deus para me ajudar, e sonhava que um dia, no paraíso, eu não sentiria mais dor e não teria mais cicatrizes. E aqui, agora, meu sonho se tornou realidade. É o paraíso na Terra”. A frase é de Kim Phuc, a mulher hoje crescida cujo sofrimento, quando criança, se eternizou na histórica foto em que aparece correndo, nua e gritando, após um ataque de napalm em seu vilarejo, durante a guerra do Vietnã. Kim tinha apenas nove anos. Seu corpo sofreu queimaduras graves, especialmente nas costas. O alívio das dores decorrentes das lesões veio 43 anos depois, por meio de um recurso até recentemente usado com fim estético, para rejuvenescimento.

Trata-se de um laser utilizado contra rugas que vem se mostrando eficaz para amenizar marcas de queimaduras e atenuar a dor por elas provocadas. O tratamento está sendo aplicado pela dermatologista Jill Waibel, de Miami, nos Estados Unidos. “Nós literalmente vaporizamos os tecidos das cicatrizes”, explicou a médica à ISTOÉ. “A pele se regenera. A maioria dos pacientes relata melhora substancial no alívio da dor e na mobilidade de braços e pernas dias ou semanas após cada sessão.”

A nova opção é resultado do esforço para encontrar saídas contra a dor crônica, condição que, segundo o Instituto Americano de Medicina, é o maior problema de saúde pública do mundo. “Estima-se que 30% da população mundial tenha dor crônica”, afirma a neurologista Vanessa Muller, do Rio de Janeiro, especialista no tratamento.

Como no caso do laser, outra alternativa pode surgir da área da beleza. O cirurgião plástico Paolo Rocha, de São Paulo, pretende fazer no Brasil uma operação para evitar as crises da enxaqueca. Ele aprendeu a técnica com o americano Bahman Guyuron, que a aplica há quinze anos nos EUA. “Em geral, até 40% dos pacientes têm remissão completa da dor”, diz. O procedimento, porém, não é consenso. “Mais estudos devem ser feitos para verificar se o método realmente funciona”, afirma o neurologista Renato Anghinah, coordenador do Núcleo de Neurologia do Hospital Samaritano, de São Paulo.

As dores de cabeça, incluindo a enxaqueca, estão entre as mais prevalentes. A outra é a dor nas costas. Entre suas causas, estão as hérnias de disco. Um dos recursos mais recentes é o laser. “Sua energia pulveriza a hérnia”, diz José Moreno, coordenador do Centro de Tratamento Intensivo da Dor, no Rio de Janeiro. Outra são as ondas acústicas, que estimulam a liberação de compostos analgésicos. O taxista Paulo Pereira Filho experimentou a terapia após dois anos tentando outros métodos para atenuar o que sentia por causa de três hérnias. “A dor diminuiu muito.” Na opinião do médico Paulo Renato Fonseca, da Sociedade Brasileira para Estudos da Dor, a opção é adequada a alguns pacientes. “É para os que não respondem aos tratamentos mais simples.”

Na área de remédios, uma das novidades é a chegada do Sumaxpro, que combina naproxeno (anti-inflamatório) e a sumatriptana (analgésico de alta potência). Outra são os adesivos, um jeito de ministrar a medicação de maneira uniforme. “Isso aumenta a aderência do paciente às medicações. Não é necessário lembrar horários”, diz o médico João Valverde, do Núcleo Avançado de Dor e Distúrbios do Movimento do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Um desses adesivos acaba de chegar ao Brasil e é indicado para a dor da crise de herpes. Outro, cujo princípio ativo é a buprenorfina, trata vários tipos de dor.

O físico Marcelo de Sousa, do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, está desenvolvendo o Ligth-Aid, um curativo flexível que usa luz de LED para reduzir e bloquear a dor crônica. “A luz inibe a condução dos sinais da dor enviados para o cérebro”, explica. O início da venda do aparelho está previsto para os próximos meses.

Para o alívio ser maior, é preciso uma reeducação do paciente. “A maioria das dores que sentimos são causadas por vários fatores”, diz Anghinah. “O paciente deve entender porque toma os remédios e precisa mudar coisas como a maneira com que se relaciona com seu corpo”, completa o anestesiologista Francisco Cordon, do Hospital São Luiz, em São Paulo.

Fonte: Revista IstoÉ